terça-feira, abril 17, 2018

Antes que tudo desapareça, de Kiyoshi Kurosawa ***1/2


Os alienígenas em missão de reconhecimento de “Antes que tudo desapareça” (2017) têm um poder extraterreno bastante peculiar: para que o aprendizado sobre os costumes de uma raça a ser dominada seja completo eles podem extrair conceitos das mentes dos indivíduos. Esse detalhe da trama é simbólico da própria concepção artística do filme do diretor japonês Kiyoshi Kurosawa. Há no filme alguns dos principais elementos narrativos e temáticos inerentes às produções de ficção-científica contemporâneas. Tais aspectos, entretanto, manifestam-se com sutileza e de maneira econômica (ainda que sempre impactante). Estão lá os discretos efeitos especiais, a encenação que remete ao thriller e à aventura (com direito a uma memorável sequência que homenageia o clássico “Intriga internacional” de Alfred Hitchcock), o roteiro que evoca o embate entre o militarismo da humanidade e os conhecimentos misteriosos de uma raça alienígena. Por outro lado, todo esse lado tradicional do gênero cinematográfico em questão é submetido a um conceito existencial mais obscuro e poético. A interação entre os personagens, as cenas que se desenrolam em um ritmo que beira o contemplativo e o diálogos repletos de nuances filosóficas e humanistas caracterizam uma obra também reflexiva e de forte densidade dramática-psicológica, ainda que permeada quase sempre por uma atmosfera de estranha leveza. A ligação que se se dá entre uma estrutura narrativa de filme de ação e ambientação intimista é fluida e natural, reforçando a impressão de que Kurosawa é um dos nomes mais originais dentro do panorama do cinema fantástico contemporâneo.

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