Os alienígenas em missão de reconhecimento de “Antes que
tudo desapareça” (2017) têm um poder extraterreno bastante peculiar: para que o
aprendizado sobre os costumes de uma raça a ser dominada seja completo eles
podem extrair conceitos das mentes dos indivíduos. Esse detalhe da trama é
simbólico da própria concepção artística do filme do diretor japonês Kiyoshi
Kurosawa. Há no filme alguns dos principais elementos narrativos e temáticos
inerentes às produções de ficção-científica contemporâneas. Tais aspectos,
entretanto, manifestam-se com sutileza e de maneira econômica (ainda que sempre
impactante). Estão lá os discretos efeitos especiais, a encenação que remete ao
thriller e à aventura (com direito a uma memorável sequência que homenageia o
clássico “Intriga internacional” de Alfred Hitchcock), o roteiro que evoca o
embate entre o militarismo da humanidade e os conhecimentos misteriosos de uma
raça alienígena. Por outro lado, todo esse lado tradicional do gênero
cinematográfico em questão é submetido a um conceito existencial mais obscuro e
poético. A interação entre os personagens, as cenas que se desenrolam em um
ritmo que beira o contemplativo e o diálogos repletos de nuances filosóficas e
humanistas caracterizam uma obra também reflexiva e de forte densidade
dramática-psicológica, ainda que permeada quase sempre por uma atmosfera de
estranha leveza. A ligação que se se dá entre uma estrutura narrativa de filme
de ação e ambientação intimista é fluida e natural, reforçando a impressão de
que Kurosawa é um dos nomes mais originais dentro do panorama do cinema
fantástico contemporâneo.
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