terça-feira, abril 10, 2018

Meu rei, de Maïwenn ***


O olhar feminino da diretora Maïwenn domina a narrativa de “Meu rei” (2015) e é quem dá o seu efetivo e contundente sentido artístico-existencial. Dentro da relação disfuncional que se estabelece entre o casal Tony (Emmanuelle Bercot) e Georgio (Vincent Cassel), marcada pelo comportamento opressor e abusivo por parte do segundo, a perspectiva que sempre fica evidente para o espectador é a da protagonista. A violência física, moral e psicológica a que fica submetida não se vincula a uma explicação para o comportamento do companheiro. Sendo um desvio de teor psiquiátrico ou simplesmente uma questão de caráter, o que interessa para o filme é explicitar o processo de desagregação de Tony sob o jugo da dominação patriarcal/machista de Georgio e também o doloroso percurso para que saia dessa relação doentia. Esse viés subjetivista da narrativa é acertado no sentido de que acentua a tensão sufocante que representa o cotidiano da personagem e sua busca por libertação pessoal, ao mesmo tempo que caracteriza com precisa sutileza um lado perversamente perturbador no relacionamento entre os dois: se há algo que beira a psicose brutalizante no comportamento de Georgio, também há um lado sedutor no grande carisma que ele exala em alguns momentos da trama. Essa confusão de sentimentos é atordoante para que assiste ao filme e, de certa forma, é como jogasse o espectador para dentro da própria mente de Tony. Esse forte grau de empatia de “Meu rei” também tem como responsáveis as atuações vigorosas de Bercot e Cassel.

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