Se em “A pele de Vênus” (2015) o diretor Roman Polanski
investia em um memorável delírio estético e narrativo que por vezes beirava de
maneira brilhante o metalinguístico, em “Baseado em fatos reais” (2017) ele
volta ao terreno confortável de algumas escolhas artísticas que ele já havia
trabalhado com mais vigor criativo em outros títulos de sua filmografia. Estão
lá aquelas nebulosas atmosferas em que o real e o onírico se entrecruzam de
maneira sutil e perversa, a tensão entre o psicológico e o metafísico que se
estabelece em ambientes fechados, a atormentada personagem principal que se
rende aos ambíguos apelos sensuais/opressivos de uma amante/antagonista, e até
mesmo as irônicas referências ao universo literário contemporâneo. Essa
constante impressão de uma certa reciclagem por parte do cineasta acaba
recebendo o incômodo complemento de um roteiro que por vezes se mostra inócuo
em algumas obviedades – até porque o mote principal do que era para ser o
mistério central da trama, o fato de que a escritora Delphine (Emmanuelle
Seigner) e sua assistente obsessiva Elle (Eva Green) são a mesma pessoa, é tão
mal dissimulado em alguns truques baratos do filme que o que era para ser
surpreendente acaba parecendo até anticlimático. Por mais que “Baseado em fatos
reais” sugira uma certa preguiça de Polanski, entretanto, a elegância na
condução da narrativa, a atraente ambientação que entrecruza o sensual e o
assustador e as belas composições imagéticas de algumas cenas dão ao filme um
forte caráter sedutor para o espectador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário