sexta-feira, abril 20, 2018

Baseado em fatos reais, de Roman Polanski ***


Se em “A pele de Vênus” (2015) o diretor Roman Polanski investia em um memorável delírio estético e narrativo que por vezes beirava de maneira brilhante o metalinguístico, em “Baseado em fatos reais” (2017) ele volta ao terreno confortável de algumas escolhas artísticas que ele já havia trabalhado com mais vigor criativo em outros títulos de sua filmografia. Estão lá aquelas nebulosas atmosferas em que o real e o onírico se entrecruzam de maneira sutil e perversa, a tensão entre o psicológico e o metafísico que se estabelece em ambientes fechados, a atormentada personagem principal que se rende aos ambíguos apelos sensuais/opressivos de uma amante/antagonista, e até mesmo as irônicas referências ao universo literário contemporâneo. Essa constante impressão de uma certa reciclagem por parte do cineasta acaba recebendo o incômodo complemento de um roteiro que por vezes se mostra inócuo em algumas obviedades – até porque o mote principal do que era para ser o mistério central da trama, o fato de que a escritora Delphine (Emmanuelle Seigner) e sua assistente obsessiva Elle (Eva Green) são a mesma pessoa, é tão mal dissimulado em alguns truques baratos do filme que o que era para ser surpreendente acaba parecendo até anticlimático. Por mais que “Baseado em fatos reais” sugira uma certa preguiça de Polanski, entretanto, a elegância na condução da narrativa, a atraente ambientação que entrecruza o sensual e o assustador e as belas composições imagéticas de algumas cenas dão ao filme um forte caráter sedutor para o espectador.

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