“2001: Uma odisseia no espaço” (1968) foi um marco para
ficção-científica no cinema porque tirou definitivamente o gênero daquele
universo puramente aventuresco e escapista e lhe deu uma abordagem artística de
maior densidade dramática e até de forte profundidade psicológica. Em maior ou
menor grau, a partir da obra-prima de Stanley Kubrick foram várias as obras que
surgiram inspiradas nesse caráter mais sério e destinado a refletir sobre a
humanidade perante o inexorável avanço tecnológico. “Ex-machina: Instinto
artificial” (2014) é um claro exemplar dessa tendência. O longa dirigido por
Alex Garland, nome bastante vinculado à ficção científica ao atuar como roteirista
em outros trabalhos no gênero (“Sunshine – Alerta solar”, “Não me abandone
jamais”, “Dredd”), apresenta uma trama que expõe com alguma sutileza os dilemas
e contradições da relação entre humanos e autômatos dotados de inteligência
artificial. É uma obra de narrativa sóbria, de certa criatividade na concepção
de suas trucagens e com algumas sequências memoráveis em termos de tensão
dramática, mas está bem distante da contundência estética e mesmo filosófica de
outras produções que versaram sobre essa mesma temática, como “Blade Runner – O
caçador de androides” (1982), “Inteligência artificial” (2001) e “Ela” (2013).
O trabalho de Garland peca por um certo excesso na assepsia imagética e por
convencionalismos na encenação em determinadas passagens da narrativa. Ainda
assim, “Ex-machina” é um produto acima da média dentro do que vem sendo feito
no gênero e reforça que Garland é um nome a se guardar quando se trata dessa
escola cinematográfica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário