terça-feira, abril 03, 2018

Jogador nº 1, de Steven Spielberg ****


O programador e visionário James Halliday (Mark Rylance), criador do fictício misto de vídeo-game e existência virtual OASIS, principal cenário de “Jogador nº 1” (2018), é um fissurado por cultura pop, com a trama do filme dando a entender que por uma queda especial para os anos 80 (praticamente todas as canções da trilha sonora, por exemplo, são de sucessos dessa época). Dentro dessa dieta cultural, é bem provável que ele seja admirador de alguns dos principais filmes oitentistas de Steven Spielberg. Dessa maneira, daria até para dizer que é quase óbvia a escolha de Spielberg como diretor de “Jogador nº 1”. Ocorre, entretanto, que a produção em questão não se trata de mera obra nostálgica e recicladora de referências e citações. É claro que o espectador vai se ligar em vários detalhes nesse sentido, mas o filme tem um direcionamento existencial-artístico mais ambíguo. Afinal, o futuro distópico onde a trama se situa sugere que essa visão saudosa do passado também traz dentro de si um forte grau de alienação em relação ao próprio presente. A narrativa consegue estabelecer uma relação fluente e algo perturbadora entre os seus planos de realidade – o físico e o virtual – e acentua com sutileza alguns aspectos de contestação sócio-política do subtexto do roteiro, principalmente no que diz respeito a aspectos de distorção de um capitalismo selvagem praticado por grandes corporações e na forma com que corações e mentes são manipulados nesse processo. É claro que tudo isso é filtrado por um verniz típico de divertida aventura juvenil, coisa na qual Spielberg é mestre. Aliás, a conjunção entre encenação e efeitos visuais é extraordinária e marca um passo além em relação ao que o próprio Spielberg já havia feito em “As aventuras de Tintim – O segredo do Licorne” (2011). Para aqueles que andavam desiludidos com os acomodados e insossos dramas históricos recentes dirigidos pelo cineasta norte-americano, “Jogador nº 1” ajuda a lembra que quando Spielberg e ficção científica se juntam é sempre bom prestar atenção.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Queria ver logo esse filme antes que seja tarde