O programador e visionário James Halliday (Mark Rylance),
criador do fictício misto de vídeo-game e existência virtual OASIS, principal
cenário de “Jogador nº 1” (2018), é um fissurado por cultura pop, com a trama
do filme dando a entender que por uma queda especial para os anos 80
(praticamente todas as canções da trilha sonora, por exemplo, são de sucessos
dessa época). Dentro dessa dieta cultural, é bem provável que ele seja
admirador de alguns dos principais filmes oitentistas de Steven Spielberg.
Dessa maneira, daria até para dizer que é quase óbvia a escolha de Spielberg
como diretor de “Jogador nº 1”. Ocorre, entretanto, que a produção em questão
não se trata de mera obra nostálgica e recicladora de referências e citações. É
claro que o espectador vai se ligar em vários detalhes nesse sentido, mas o
filme tem um direcionamento existencial-artístico mais ambíguo. Afinal, o futuro
distópico onde a trama se situa sugere que essa visão saudosa do passado também
traz dentro de si um forte grau de alienação em relação ao próprio presente. A
narrativa consegue estabelecer uma relação fluente e algo perturbadora entre os
seus planos de realidade – o físico e o virtual – e acentua com sutileza alguns
aspectos de contestação sócio-política do subtexto do roteiro, principalmente
no que diz respeito a aspectos de distorção de um capitalismo selvagem
praticado por grandes corporações e na forma com que corações e mentes são
manipulados nesse processo. É claro que tudo isso é filtrado por um verniz
típico de divertida aventura juvenil, coisa na qual Spielberg é mestre. Aliás,
a conjunção entre encenação e efeitos visuais é extraordinária e marca um passo
além em relação ao que o próprio Spielberg já havia feito em “As aventuras de
Tintim – O segredo do Licorne” (2011). Para aqueles que andavam desiludidos com
os acomodados e insossos dramas históricos recentes dirigidos pelo cineasta
norte-americano, “Jogador nº 1” ajuda a lembra que quando Spielberg e ficção
científica se juntam é sempre bom prestar atenção.
Um comentário:
Queria ver logo esse filme antes que seja tarde
Postar um comentário