Expressivo exemplar do exploitation brasileiro, “Giselle”
(1980) é uma obra que tem até alguns aspectos datados em termos narrativos, mas
que mesmo assim consegue impressionar nos dias de hoje. Certas nuances
temáticas e estéticas remetem muito ao cinema intimista de Walter Hugo Khouri,
só que com uma preponderância ainda maior para o erótico e o grotesco. Sugerem
ainda uma espécie de leitura sócio-política da época, principalmente no que diz
respeito à repressão do regime militar e os conflitos ideológicos, além de uma
visão irônica sobre os costumes da burguesia nativa. Por vezes, tais pretensões
artísticas existenciais trazem um caráter perturbador para a obra, em outros
momentos apenas resvalam no superficial e no oportunista. O que fica de
memorável realmente nesse longa dirigido por Victor Di Mello é no acentuado
fator de violência e sexualidade gráficas que inundam a tela em algumas
sequências. Pode-se acusar o filme de várias coisas, até de um certo apelo
preconceituoso que seria quase impensável no cinema contemporâneo, mas pelo
menos não se pode dizer que caia em concepções imagéticas e narrativas
assépticas. Por mais desagradável e vulgar que sejam algumas de suas cenas, “Giselle”
é o tipo de obra que se instaura de forma insinuante no imaginário do
espectador.
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