O tipo de proposta temática/narrativa de “A festa” (2017)
não chega a ser exatamente uma novidade, mas de vez em quando costuma render
alguma coisa de interessante: no ambiente fechado de uma pequena reunião
social, revelações e outras situações-limites levam os personagens a exporem
seus segredos sórdidos, preconceitos e hipocrisias, fazendo com que a linha
entre a civilidade e a selvageria se mostre muito tênue. No caso do filme de
Sally Potter, há também a preocupação em expor alguns dos principais dilemas e
conflitos da sociedade contemporânea (feminismo, machismo, arrivismo
sócio-econômico, alienação, famílias disfuncionais). Vale mencionar ainda que a
diretora contou em sua produção com um elenco de nomes expressivos no panorama
cinematográfico atual. O resultado final de sua obra, entretanto, é frustrante.
Culpa de uma certa mão pesada de Potter na condução de sua narrativa. A encenação
se mostra emperrada por uma verborragia excessiva, as atuações se perdem em
caracterizações caricaturais e o roteiro fica indeciso entre evocar alguma densidade
psicológica ou privilegiar um tom anedótico. Por vezes, “A festa” até insinua
um tom mais perturbador na forma com as frustrações e desejos dos personagens
são expostos em cena, mas no final das contas isso apenas serve para mostrar
que o filme poderia ter sido bem melhor. Aliás, faz até imaginar o que um
artista como Roman Polanski, por exemplo, mestre nesse tipo de trama, poderia
ter extraído de tais elementos narrativos.
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