A crueza narrativa e cênica de “Beach rats” (2017) faz
lembrar “Kids” (1995). Mesmo a parte temática dos filmes chegam a ser bem
semelhantes, mostrando o lado obscuro da juventude norte-americana. Ou seja, a
obra da diretora Eliza Hitman está bem distante de poder ser considerada uma
grande novidade ou ruptura no cinema indie norte-americano. Ainda assim, não
deixa de ser um trabalho inquietante. A encenação é de claro teor naturalista,
mas embalada em uma bela concepção imagética, o que se mostra em sintonia no
próprio jogo de contradições da trama (jovens fotogênicos envolvidos em
situações sórdidas, hedonismo exacerbado que se choca com uma melancolia
fatalista). O roteiro traz uma sutil carga simbolista nas desventuras do
protagonista Frankie (Harris Dickinson) em meio a passeios noturnos com os
amigos em Coney Island (em sequências, aliás, que constituem os grandes
momentos da direção de fotografia), pequenos furtos e aventuras homossexuais
com caras mais velhos. Nesse último aspecto, aliás, talvez se concentre os
momentos dramáticos mais complexos e interessantes de “Beach rats”, em que tais
episódios mais revelam um caráter ambíguo do que propriamente um erotismo
escancarado – Frankie tanto parece
querer saciar seus desejos quanto ter um desejo atávico por uma figura paterna
ausente.
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