Faz alguns anos que assisti a uma palestra de Júlio Bressane
e me impressionou a sua lucidez intelectual e mesmo a sua percepção sobre a
natureza intrigante da sua própria obra. E é extraordinário como tais aspectos
conseguem se tornar visíveis em seus filmes. Só mesmo Bressane consegue fazer
com a combinação de um roteiro baseado em discussões herméticas e intrincadas
sobre a natureza da arte entre um casal e uma encenação de forte traço
antinaturalista se transforme em uma experiência cinematográfica tão
estimulante quanto em “Beduíno” (2016). Mostrando a mesma inquietação e
criatividade que marcou de maneira constante a sua filmografia, o diretor
constrói uma atmosfera delirante que tanto desconcerta quanto encanta,
utilizando-se para isso de truques estéticos complexos em termos de concepção
existencial-artística, mas que em sua execução também revelam uma simplicidade
perturbadora. E a parceria com a atriz Alessandra Negrini revela cada vez mais
uma assombrosa sintonia, o que se acaba configurando em uma interpretação que
varia com sensibilidade e precisão dramática do sensual ao francamente bizarro.
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