Há filmes que são quase que indissociáveis da época em que
foram realizados. A produção brasileira “Anjos da noite” (1987) é um desses
casos. Nos anos 80, havia uma vertente no cinema nacional, principalmente
oriunda de São Paulo, que trazia uma urgência em colocar em prática um conjunto
estético-temático que se mostrasse em sintonia com um ideal artístico
pós-moderno, necessidade essa fruto provável do período obscurantista dos anos
de chumbo da ditadura militar. Se no Rio de Janeiro diretores e produtores
enveredavam por obras “praieiras” de caráter festivo-hedonista, em São Paulo o
foco estava numa ambientação noturna estilizada com tramas envolvendo figuras “outsiders”
(artistas, pequenos marginais, prostitutas, michês, gangsteres) em narrativas
que abarcavam tanto a encenação naturalista quanto atmosferas oníricas/delirantes
típicas do cinema fantástico e dos musicais e tons metalinguísticos. O filme de
Wilson Barros tem tudo isso, por vezes esbarrando em uma narrativa irregular e na
ingenuidade suas pretensões, em outros momentos trazendo algum encanto em sua
trama mosaico de vários personagens, como se fosse uma simpática versão nativa
do clássico da estilização cinematográfica oitentista “O fundo do coração”
(1982).
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