quinta-feira, agosto 02, 2018

Custódia, de Xavier Legrand ***


Na sua construção formal-narrativa, “Custódia” (2017) parece uma variação dos preceitos artísticos de alguns dos principais filmes dos irmãos Dardenne. Há aquela sóbria abordagem estética a embalar uma trama de forte conteúdo intimista-social. Ainda que tenha esse aspecto derivativo, o filme do diretor francês Xavier Legrand consegue ter um considerável impacto sensorial para as plateias. O conjunto encenação, edição e fotografia configura uma forte atmosfera de tensão sufocante na história da conturbada relação entre um homem violento e perturbado e a ex-mulher e filhos. Há um tom quase documental por vezes na narrativa, em que até detalhes burocráticos e administrativos de um processo judicial de separação litigiosa, por exemplo, são expostos em suas minúcias justamente para caracterizar uma ambientação de opressão machista e econômica sobre aqueles mais fragilizados (mulheres, crianças, pobres) perante esse sistema sócio-econômico. Legrand não se vale de artifícios de fácil manipulação sentimental, como música melosa ou caracterizações caricatas – seu filme tem uma objetividade e secura que realçam com precisão e sensibilidade alguns tormentos existenciais típicos da sociedade contemporânea, além de um elenco cujas composições dramáticas à flor-da-pele se mostram em notável sintonia com tal proposta.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Sou do Clube de Cinema de Porto Alegre e pretendo ver esse filme no sabado