Quando comecei a acompanhar filmes com mais afinco em minha
adolescência, em meados dos anos 1980, percebia que quando alguém se referia a
cinema nacional geralmente trazia uma carga negativa, colocando que a maioria
dos filmes era de sacanagem ou coisa que o valha. Muito dessa impressão vinha
do fato que aquilo que era considerado por público e grande parcela da crítica
como “pornochanchada”, uma espécie de variação popular e gaiata do gênero explotation,
foi bastante predominante em nossas telas na década de 70 e princípio dos 80,
período esse em que o Brasil estava sob o cabresto da ditadura militar. O
documentário “História que nosso cinema (não) contava” (2017) foca justamente
nessa relação existencial entre essa linhagem de produções com o opressor
ambiente sócio-político daquela época. Em sua abordagem estética, a diretora
Fernanda Pessoa faz lembrar o modus operandi que Eryk Rocha havia adotado em “Cinema
novo” (2016), dispensando uma voz narradora ou depoimentos contemporâneos em
prol de um minucioso trabalho de montagem que combina trechos expressivos de
alguns dos principais longas do gênero. Nessa formatação, o documentário de
Pessoa tem um efeito sensorial desconcertante e uma notável lucidez temática.
As cenas mostradas formam um impressionante híbrido de ironia entre a malícia e
o amargo, erotismo barato exacerbado e contundente violência gráfica, em um
conjunto audiovisual que expõe com crueza e cruel sarcasmo a atemporal alma de
uma nação.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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