quinta-feira, agosto 23, 2018

Sign 'o' the times, de Prince ****


A relação de Prince com o cinema sempre foi conturbada. Se o drama ficcional “Purple rain” (1984) ajudou a consolidar o seu nome para o estrelato, houve também obras que foram verdadeiros fiascos comerciais e artísticos. Entre esses altos e baixos, “Sign ‘o’ the times” (1987) representa a grande contribuição desse genial músico para a arte cinematográfica. Se o álbum de mesmo nome era marcado por uma musicalidade descarnada em termos de arranjos e produção, beirando o minimalismo, seu equivalente fílmico investiu em uma opulência barroca e luxuriante. Com o próprio Prince na direção, a obra se alterna em abordagens diferentes, ainda que o predomínio seja a formatação de um filme-concerto. Há espaço para encenação estilizada e trechos videoclipeiros, mas sempre preservando uma noção de unidade conceitual, em que música e coreografia evidenciam um erotismo irônico e intenso que se contrapõe a uma atmosfera entre o sombrio e o sórdido, reflexo claro de uma época em que a AIDS avançava de forma impiedosa e as noções de desejo e culpa voltavam a se contrapor (ainda que na visão de Prince tal embate passe por um viés sarcástico). As canções de “Sign ‘o’ the times” se sucedem obedecendo a um rigoroso e notável senso cênico e narrativo, em que a concepção imagética da obra valoriza as nuances rítmicas e melódicas das performances de Prince e banda. Daria até para dizer que assistir ao filme é uma experiência interessante até para quem não gosta de Prince, mas confesso que acho difícil que algum ser humano com um mínimo de sensibilidade não goste pelo menos um pouco da musicalidade exuberante do cara.

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