A relação de Prince com o cinema sempre foi conturbada. Se o
drama ficcional “Purple rain” (1984) ajudou a consolidar o seu nome para o
estrelato, houve também obras que foram verdadeiros fiascos comerciais e
artísticos. Entre esses altos e baixos, “Sign ‘o’ the times” (1987) representa
a grande contribuição desse genial músico para a arte cinematográfica. Se o
álbum de mesmo nome era marcado por uma musicalidade descarnada em termos de
arranjos e produção, beirando o minimalismo, seu equivalente fílmico investiu
em uma opulência barroca e luxuriante. Com o próprio Prince na direção, a obra
se alterna em abordagens diferentes, ainda que o predomínio seja a formatação
de um filme-concerto. Há espaço para encenação estilizada e trechos videoclipeiros,
mas sempre preservando uma noção de unidade conceitual, em que música e
coreografia evidenciam um erotismo irônico e intenso que se contrapõe a uma
atmosfera entre o sombrio e o sórdido, reflexo claro de uma época em que a AIDS
avançava de forma impiedosa e as noções de desejo e culpa voltavam a se
contrapor (ainda que na visão de Prince tal embate passe por um viés
sarcástico). As canções de “Sign ‘o’ the times” se sucedem obedecendo a um rigoroso
e notável senso cênico e narrativo, em que a concepção imagética da obra
valoriza as nuances rítmicas e melódicas das performances de Prince e banda. Daria
até para dizer que assistir ao filme é uma experiência interessante até para
quem não gosta de Prince, mas confesso que acho difícil que algum ser humano
com um mínimo de sensibilidade não goste pelo menos um pouco da musicalidade
exuberante do cara.
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