quarta-feira, outubro 03, 2018

Missão 115, de Silvio Da-Rin **1/2


Há uma conexão temática evidente entre os documentários “Hércules 56” (2006) e “Missão 115” (2018), ambos dirigido por Silvio Da-Rin – as duas obras tratam de episódios relativos ao período da ditadura militar no Brasil. Se na época do lançamento do primeiro filme havia uma impressão de que a narrativa abordava fatos de um passado atribulado e que dificilmente poderiam se repetir no presente, na produção documental mais recente a sensação é que passado, presente e futuro estão entrelaçados de maneira intrínseca e perturbadora. Ainda fazendo a comparação entre os dois documentários, “Missão 115” se mostra com um viés mais pessoal, ainda que mantenha a linha didática histórica do trabalho anterior de Da-Rin. Tanto que o próprio diretor se coloca como personagem logo no início da narrativa por ter sido preso político na época da ditadura. A maioria dos depoimentos vem em um tom professoral e detalhista; ainda que bastante informativas e esclarecedoras, tais entrevistas dão uma formatação um tanto cansativa para o filme, fazendo com que por vezes tudo pareça mais uma grande reportagem, carecendo assim de uma abordagem estética mais ousada. Provavelmente, diante das circunstâncias sócio-políticas atuais, em que há fortes possibilidades de que país venha a ser governado por um ultradireitista raivoso ou mesmo sofra um novo golpe militar, as verdadeiras intenções artísticas-existenciais de Da-Rin estejam no caráter panfletário-informativo de “Missão 115” do que em alguma grande elaboração criativa em termos de linguagem cinematográfica. Olhando sob esse ângulo, dá para dizer que o documentário em questão se mostra uma experiência cultural e sensorial até bem-sucedida, pois consegue estabelecer uma ligação de coerência e profundidade entre as ações de terrorismo de Estado no crepúsculo da ditadura com os arroubos de autoritarismo e hipocrisia que levaram ao golpe parlamentar de 2016 e à nova ascensão do pensamento reacionário-fascista na sociedade contemporânea.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Missão 115 comprova que as teorias de conspiração dentro da história política acabam por ser tão ou mais verossímil do que a própria viagem a lua. Saiba mais no meu blog https://cinemacemanosluz.blogspot.com/2018/09/cine-dica-em-cartaz-missao-115.html