segunda-feira, fevereiro 11, 2019

A casa do cemitério, de Lucio Fulci ****


O horror cinematográfico concebido pelo diretor italiano Lucio Fulci parece habitar um universo paralelo dentro do próprio gênero. Por mais que suas obras flertem com temas e truques narrativos bastante característicos de outros filmes dessa linhagem, a encenação e atmosfera rarefeitas e o teor imagético doentio constantes em sua filmografia marcam uma diferenciação perturbadora e contundente para o seu público. “A casa do cemitério” (1981) é um comprovante enfático do ideário artístico muito particular de Fulci. O roteiro gira em torno da velha premissa de uma casa mal-assombrada, mas isso é apenas um detalhe/pretexto para uma tenebrosa viagem sensorial, vide a combinação desconcertante entre fotografia e direção de arte que sintetizam climas góticos e puro gore escatológico, com direito a muitos vermes saindo de ferimentos e mortes atrozes à base de perfurações, lacerações e afins. Ainda que brutalidade gráfica seja muito presente, Fulci consegue preservar um teor muito original de suspense, principalmente pelo fato de que a origem do horror vem de fontes incertas ou mal-explicadas (na verdade, para Fulci explicações plausíveis para o mal constante que paira nas tramas de seus filmes são completamente dispensáveis – o que vale é simplesmente a consequência desse mal). Se para os apreciadores do horror asséptico das franquias cinematográficas norte-americanas do gênero na atualidade assistir a “A casa do cemitério “ pode ser uma experiência indigesta, para os demais apreciadores do terror cinematográfico essa obra-prima de Fulci é um verdadeiro prato-cheio estético/existencial.

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