O horror cinematográfico concebido pelo diretor italiano
Lucio Fulci parece habitar um universo paralelo dentro do próprio gênero. Por
mais que suas obras flertem com temas e truques narrativos bastante
característicos de outros filmes dessa linhagem, a encenação e atmosfera
rarefeitas e o teor imagético doentio constantes em sua filmografia marcam uma
diferenciação perturbadora e contundente para o seu público. “A casa do
cemitério” (1981) é um comprovante enfático do ideário artístico muito
particular de Fulci. O roteiro gira em torno da velha premissa de uma casa
mal-assombrada, mas isso é apenas um detalhe/pretexto para uma tenebrosa viagem
sensorial, vide a combinação desconcertante entre fotografia e direção de arte
que sintetizam climas góticos e puro gore escatológico, com direito a muitos
vermes saindo de ferimentos e mortes atrozes à base de perfurações, lacerações
e afins. Ainda que brutalidade gráfica seja muito presente, Fulci consegue
preservar um teor muito original de suspense, principalmente pelo fato de que a
origem do horror vem de fontes incertas ou mal-explicadas (na verdade, para
Fulci explicações plausíveis para o mal constante que paira nas tramas de seus
filmes são completamente dispensáveis – o que vale é simplesmente a
consequência desse mal). Se para os apreciadores do horror asséptico das
franquias cinematográficas norte-americanas do gênero na atualidade assistir a “A
casa do cemitério “ pode ser uma experiência indigesta, para os demais
apreciadores do terror cinematográfico essa obra-prima de Fulci é um verdadeiro
prato-cheio estético/existencial.
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