No panorama histórico-estético do cinema gaúcho, “Adyós,
general” (1986) é uma obra completamente fora da curva – não se liga a nenhum
movimento, escola ou qualquer outro tipo de linhagem que se configurou no
Estado. Bem, talvez dê para pensar no recente e extraordinário “A cidade dos
piratas” (2018), de Otto Guerra (aliás, Guerra é responsável pela animação dos
créditos de abertura de “Adyós, genera”, numa bizarra coincidência. Ou não?). A
origem da obra dirigida por Omar de Barros Filho já é característica da sua
natureza estranha – um jornalista com grande experiência na imprensa
alternativa e de esquerda resolve fazer um filme de ficção para narrar fatos
que presenciou ao cobrir os conflitos armados entre as forças do governo e a
guerrilha em El Salvador nos anos 80. O grande diferencial, entretanto, é que o
cineasta/repórter filtra essa trama histórica-biográfica sob uma bizarra e
inventiva perspectiva narrativa-estética, fazendo um cruzamento delirante e
genial de preceitos de Cinema Novo e Cinema Underground e mais alguns toques de
referências documentais. Encenação, direção de fotografia e edição se fundem
sob um formalismo de forte caráter libertário. A narrativa vai se tornando cada
vez mais alegórica e intrincada, baseada em diálogos/discursos repletos de
expressivas nuances políticas/filosóficas e em um grafismo brutal baseado em
violência e sexo que por vezes envereda sem cerimônias no escatológico. Ainda
que toda essa concepção artística possa ser chocante para boa parte da
audiência, em seu subtexto há um forte teor humanista e poético que só encontra
paralelo talvez com a obra-prima extrema de Pasolini, “Saló – Os 120 dias de sodoma”
(1975). O grito de Omar de Barros Filho contra a opressão e a hipocrisia das forças
reacionárias é feroz na sua indignação e sarcasmo e só poderia mesmo se
concretizar por meios de uma linguagem cinematográfica tão desafiadora e
criativa quando essa apresentada em “Adyós, general”. Os encantos (e perturbações)
do filme se mostram atemporais, vide a forma coerente com que a obra se
relaciona com o atual cenário sócio-político brasileiro e mundial, tomados por
uma ascensão desmedida de governos autoritários de direita.
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