A verborragia intensa e irônica sempre foi uma marca
característica de grande parte do cinema francês. Exemplo claro disso é a
filmografia da diretora Agnès Jaoui. Nas duas últimas décadas, ela construiu uma
sólida obra baseada na prolixidade de diálogos e em um senso cômico sutil e
afiado. “Praça pública” (2018) continua nessa levada e tem alguns momentos bem
interessantes, ainda que Jaoui nada inove no seu estilo e não tenha grandes
arroubos criativos estéticos. Seu roteiro parte de uma premissa temática bem
manjada, a de uma grande festa numa casa de campo que reúne personagens de todos
os tipos em que apresentam uma série de quiproquós e conflitos sociais e
sentimentais. Apesar de tal previsibilidade, Jaoui dirige com verve e
segurança, extraindo algumas ótimas performances de seu elenco e momentos
efetivamente bem engraçados. A narrativa tem uma dinâmica envolvente e faz com
que o subtexto da trama aflore com eficácia, principalmente no sentido de
ridicularizar uma classe média alta arrogante que se atribui uma importância
intelectual elevada quando na verdade se compraze em frivolidades até bem
mundanas. Mesmo o eterno conflito entre valores de direita e esquerda recebe um
tratamento engenhoso e lúcido. Ou seja, no conjunto geral, um belo panorama da
sociedade francesa contemporânea realizado com classe formal e temática acima
da média.
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