O melodrama é um gênero cinematográfico complicado. As
produções realizadas nesse estilo sempre andarão em uma fronteira tênue entre a
sobriedade narrativa e o novelesco “mexicano”. Essa linha divisória é frágil e fazer
com que um filme não descambe para o equívoco artístico exige um senso cênico e
textual marcado pela sutileza e precisão. E esse é justamente o caso do longa
japonês “Asako I & II” (2018). A história da protagonista-título que se
envolve em momentos diversos de sua vida com dois homens iguais fisicamente e
de personalidades opostas pode até aparentar em um primeiro momento um caráter
rocambolesco e exagerado digno dos romances água-com-açucar estilo “Sabrina”. A
concepção estética-temática do diretor Ryusuke Hamaquchi é decisiva para que essa
trama ganhe consistência e interesse. O fluxo da narrativa é sereno e
melancólico, valorizando detalhes visuais marcados pela simplicidade, fatos
banais do cotidiano, gestos e silêncios dos personagens e diálogos repletos de
pequenas nuances dramáticas, compondo um todo formal-existencial que seduz de
maneira quase imperceptível o espectador. Dentro de tal direcionamento artístico,
mesmo as situações de potencial mais exagerado do terço final da narrativa
acabam ganhando uma naturalidade desconcertante e bastante pungente.
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