O diretor iraniano Jafar Panahi retomar as suas habituais
obsessões estéticas e temáticas em “3 faces” (2018). O que não dizer que isso
signifique comodismo artístico. Muito pelo contrário. O cineasta demonstra
precisão e sensibilidade na construção do realismo de seu filme: o uso
preferencial do plano-sequência, a montagem invisível, a encenação de forte
teor naturalista. Tudo isso se junta à sua também costumeira dissecação da
própria linguagem cinematográfica, em um jogo cênico em que o metalinguístico,
a ficção e o real se combinam de maneira fluente e inquietante. Na trama de uma
garota de interior aspirante a atriz/diretora que pede a ajuda de maneira
dramática para o diretor e uma atriz famosa no país (Behnaz Jafari) diante da
fúria conservadora de sua família e da comunidade que a cerca, Panahi faz com
que o humanismo inerente ao roteiro encontre uma moldura formal/narrativa
sóbria e insinuante. A forma com que o diretor expõe o cotidiano do vilarejo
onde a história se desenvolve, captando detalhes da rotina das pessoas e os
depoimentos/pensamentos rústicos dos moradores, faz pensar no clássico
documentário “O fim e o princípio” (2006) recriado como ficção. No longa de
Panahi, entretanto, a captação dessa ambientação rural e dessa “sabedoria” algo
primitiva ganha contornos de uma sutil e desolada crítica à opressão religiosa
e patriarcal de uma sociedade de valores ancestrais.
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