É claro que fazer uma continuação da obra-prima do suspense “Instinto
selvagem 2” (1992) no mesmo nível artístico seria um desafio muito difícil de
superar. Mas o que surpreende nessa segunda parte dirigida por Michael
Caton-Jones, lançada em 2006, é o nível atingido de ruindade absoluta. Nada
funciona no filme a um ponto que seus equívocos narrativos e textuais chegam
nas raias do francamente ridículo e risível. Caton-Jones se perde em
maneirismos estéticos estéreis na tentativa desesperada de emular o formalismo
preciso e inventivo de Paul Verhoeven, além de se perder em um roteiro
simplório e caricato. Caton-Jones nunca foi cineasta de grandes voos criativos,
mas seu currículo é marcado por algumas memoráveis produções cujos roteiro e formalismo
eram marcados por um eficiente misto de convencionalismo e sobriedade (“Memphis
Belle”, “O despertar de um homem”, “Rob Roy”). Ou seja, bem distante dos
descalabros de “Instinto selvagem 2”. Sharon Stone, de volta ao papel principal
de Catherine Tramell, deixa-se contaminar pelo espírito de tranqueira do filme
e entrega uma interpretação canastrona constrangedora. Essa combinação de
picaretagem, oportunismo e incompetência faz de “Instinto selvagem 2” uma bela
lição de como uma produção de respeitáveis recursos humanos e materiais pode
resultar em um clamoroso desastre.
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