quinta-feira, abril 18, 2019

Rock'n roll: Por trás da fama, de Guilaume Canet ***


Fazer um filme que seja uma crítica à fogueira das vaidades que representa o universo dos famosos no cinema não chega a ser exatamente uma novidade. “Rock’n roll: Por trás da fama” (2017) está longe de ser uma obra definitiva dentro da temática, mas pelo menos escorre o seu fel de maneira divertida e por vezes até surpreendente. O diretor e ator Guilaume Canet formata o seu filme como se fosse uma narrativa ficcional tradicional, salpicando o roteiro com toques metalinguísticos. Na trama, ele e sua mulher Marion Cotilard interpretam a si próprios, assim como vários nomes do elenco, em situações que parodiam vários dos clichês e dilemas que envolvem o meio artístico em seu país (e, de certa forma, em boa parte do mundo cultural ocidental). A obra ironiza a tudo, não poupando ninguém: aspirantes arrivistas dispostos a tudo pela fama, atores consagrados obcecados em satisfazer o ego com premiações e entrevistas diversas, produtores e agentes preocupados exclusivamente com os dividendos das produções. A abordagem humorística de Canet varia como uma montanha russa, indo da ironia sutil à comicidade física que beira o exagero grotesco, o que representa variações radicais na própria atmosfera da obra, entre o realismo e o quase delírio. Isso faz com que o impacto do filme oscile entre momentos de um pastelão meio bobo e deslocado e o sofisticado e desconcertante sarcasmo. No cômputo geral, ainda que irregular na sua coesão narrativa, é uma obra memorável no insólito de seu tom sardônico.

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