Fazer um filme que seja uma crítica à fogueira das vaidades
que representa o universo dos famosos no cinema não chega a ser exatamente uma
novidade. “Rock’n roll: Por trás da fama” (2017) está longe de ser uma obra
definitiva dentro da temática, mas pelo menos escorre o seu fel de maneira
divertida e por vezes até surpreendente. O diretor e ator Guilaume Canet
formata o seu filme como se fosse uma narrativa ficcional tradicional,
salpicando o roteiro com toques metalinguísticos. Na trama, ele e sua mulher
Marion Cotilard interpretam a si próprios, assim como vários nomes do elenco,
em situações que parodiam vários dos clichês e dilemas que envolvem o meio
artístico em seu país (e, de certa forma, em boa parte do mundo cultural ocidental).
A obra ironiza a tudo, não poupando ninguém: aspirantes arrivistas dispostos a
tudo pela fama, atores consagrados obcecados em satisfazer o ego com premiações
e entrevistas diversas, produtores e agentes preocupados exclusivamente com os
dividendos das produções. A abordagem humorística de Canet varia como uma
montanha russa, indo da ironia sutil à comicidade física que beira o exagero
grotesco, o que representa variações radicais na própria atmosfera da obra,
entre o realismo e o quase delírio. Isso faz com que o impacto do filme oscile
entre momentos de um pastelão meio bobo e deslocado e o sofisticado e
desconcertante sarcasmo. No cômputo geral, ainda que irregular na sua coesão
narrativa, é uma obra memorável no insólito de seu tom sardônico.
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