quinta-feira, abril 04, 2019

Contrastes humanos, de Preston Sturges ****


São infindáveis as críticas e artigos dedicados a louvar os méritos artísticos ao longo das últimas décadas da clássica produção cômica norte-americana “Contrastes humanos” (1941). E realmente é quase inquestionável que o filme do diretor Preston Sturges representa uma síntese formal-temática perfeita daquilo que se convencionou denominar comédia maluca. A encenação dinâmica, o carisma do elenco, os diálogos afiados e o subtexto irônico a expor os interesses econômicos e a fogueira das vaidades da Hollywood da época são traços marcantes de uma obra que se mostra atemporal. Confesso, entretanto, que ao rever o filme recentemente fiquei incomodado com o tom moralizante e conservador do roteiro. Talvez os atribulados tempos que vivemos na atualidade colaborem para tal percepção, principalmente nessa conjunção de obscurantismo e cinismo que tomou o Brasil e boa parte do mundo ocidental. A conclusão do filme que ressalta a necessidade primordial do cinema de oferecer diversão escapista para o espectador visando atenuar a dureza da realidade na qual ele está inserido soa demasiadamente conivente com o processo progressivo de alienação e brutalização que sempre assolou a sociedade capitalista-cristã.

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