São infindáveis as críticas e artigos dedicados a louvar os
méritos artísticos ao longo das últimas décadas da clássica produção cômica
norte-americana “Contrastes humanos” (1941). E realmente é quase inquestionável
que o filme do diretor Preston Sturges representa uma síntese formal-temática
perfeita daquilo que se convencionou denominar comédia maluca. A encenação
dinâmica, o carisma do elenco, os diálogos afiados e o subtexto irônico a expor
os interesses econômicos e a fogueira das vaidades da Hollywood da época são
traços marcantes de uma obra que se mostra atemporal. Confesso, entretanto, que
ao rever o filme recentemente fiquei incomodado com o tom moralizante e
conservador do roteiro. Talvez os atribulados tempos que vivemos na atualidade
colaborem para tal percepção, principalmente nessa conjunção de obscurantismo e
cinismo que tomou o Brasil e boa parte do mundo ocidental. A conclusão do filme
que ressalta a necessidade primordial do cinema de oferecer diversão escapista
para o espectador visando atenuar a dureza da realidade na qual ele está
inserido soa demasiadamente conivente com o processo progressivo de alienação e
brutalização que sempre assolou a sociedade capitalista-cristã.
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