O cinema mainstream argentino tem como característica básica
a emulação fiel dos preceitos narrativos do cinema norte-americano clássico, o
que para muitos é a explicação maior pelo fato de ser melhor sucedido em termos
comerciais e artísticos do que as produções brasileiras populares. Se esse
direcionamento artístico em vários casos acaba rendendo obras assépticas e
despersonalizadas, em outras oportunidades até surpreende ao dar origem a
alguns filmes inquietantes. Nesse último caso dá para enquadrar “O anjo”
(2018). Nada no longa-metragem dirigido por Luis Ortega remete à alguma efetivo
sopro de originalidade ou de grande sobressalto criativo em termos narrativos
ou temáticos. É mais um filme policial dentro daquela tradicional linhagem a
mostrar a ascensão e queda de um meliante – e que geralmente se baseia em fatos
reais (o que é exatamente o caso do filme de Ortega). Tem até direito a
sequências de ação e violência regadas a muito rock and roll setentista (impossível
de não lembrar de cenas semelhantes de obras-primas de Martin Scorsese como “Os
bons companheiros” e “Cassino”). Ainda assim, é uma obra que por vezes cativa o
espectador pela competência e convicção de Ortega em ficar remexendo clichês
narrativos, além de contar com um desempenho magnético e memorável de Lorenzo
Ferro no papel do protagonista Carlitos Puch. As sequências dele saltando muros
e telhados, fazendo caras e bocas, disparando tiros ou simplesmente dançando
estilosamente demonstram uma impressionante expressão corporal e valorizam
ainda mais a encenação elegante concebida por Ortega.
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