segunda-feira, abril 22, 2019

Los silencios, de Beatriz Seigner ***


A combinação de drama intimista, teor sócio-político e realismo fantástico engendrada pela diretora Beatriz Seigner em “Los silêncios” (2018) não se configura em uma narrativa sempre equilibrada. Isso se compensa, entretanto, por alguns momentos de pungência arrebatadora. A forma com que os planos do real e do metafísico se relacionam revela engenhosidade formal e sensibilidade temática por parte do filme. Mesmo não se recorrendo a trucagens, há uma fluência natural na forma com que situações e personagens transitam entre a encenação naturalista e a caracterização do metafísico. O roteiro foge dos estereótipos fáceis da religiosidade cristã moralista e envereda em uma intersecção criativa entre melancólicas assombrações e forte e crítico comentário sobre um cenário de exploração econômica e opressão armada no interior da Colômbia. Há uma sutileza desconcertante e por vezes comovente na forma com que fantasmas se manifestam no cotidiano de privações e trabalho duro de um vilarejo na fronteira entre o Brasil e Colômbia. Seigner evita os truques narrativos óbvios de melodrama convencional, privilegiando expressivos silêncios e gestuais em sua encenação, além de uma certa crueza visual na concepção imagética da direção de fotografia, o que não quer dizer que a obra não tenha uma surpreendente beleza plástica rústica.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

"Los Silencios" constrói uma experiência bem detalhada e da qual nos convida para mergulharmos nela. A mensagem da diretora Beatriz Seigner é vista com clareza e em momentos de total potência. Em tempos de crise imigratória em diversas partes do mundo, o filme vem numa hora mais do que acertada. Saiba mais no meu blog.
https://cinemacemanosluz.blogspot.com/2019/04/cine-dica-em-cartaz-los-silencios-o.html