segunda-feira, abril 08, 2019

Duas rainhas, de Josie Rourke **


O episódio histórico do embate entre Mary Stuart e Elizabeth I pelo trono da Inglaterra foi levado várias vezes para o cinema. “Duas rainhas” (2018), a mais recente versão cinematográfica, tem um certo diferencial – sua grande referência estética-temática é “Maria Antonieta” (2006), produção em que Sofia Coppola fez uma releitura modernizada da vida da célebre rainha e por tabela de fatos importantes da Revolução Francesa. No filme dirigido por Josie Rourke, estão alguns preceitos narrativos e formais que lembram bastante o mencionado trabalho da Coppola filha: direção de arte e figurinos que mais remetem a uma estilização do que a reconstituição fiel, encenação vinculada ao naturalismo, roteiro que incorpora uma visão mais contemporânea e crítica dos fatos históricos. Nesse último aspecto, vale ressaltar que “Duas rainhas” enfoca aspectos como a opressão do poder patriarcal, a manipulação religiosa, o machismo covarde e mesmo outros preconceitos morais (como a homofobia), o que não deixa de ser uma ousadia existencial nesses tempos de avanço da agenda neo-reacionária mundo afora. As boas intenções de seu subtexto e as pretensões artísticas da obra, entretanto, acabam se mostrando insuficientes diante da mãe pesada de Rourke na condução da narrativa. Os excessos de uma atmosfera algo solene jogam por diversas vezes o filme na vala comum do enfadonho e previsível, o que faz de “Duas rainhas” uma produção rotineira dentro do gênero filme de época.

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