O episódio histórico do embate entre Mary Stuart e Elizabeth
I pelo trono da Inglaterra foi levado várias vezes para o cinema. “Duas rainhas”
(2018), a mais recente versão cinematográfica, tem um certo diferencial – sua grande
referência estética-temática é “Maria Antonieta” (2006), produção em que Sofia
Coppola fez uma releitura modernizada da vida da célebre rainha e por tabela de
fatos importantes da Revolução Francesa. No filme dirigido por Josie Rourke,
estão alguns preceitos narrativos e formais que lembram bastante o mencionado
trabalho da Coppola filha: direção de arte e figurinos que mais remetem a uma
estilização do que a reconstituição fiel, encenação vinculada ao naturalismo,
roteiro que incorpora uma visão mais contemporânea e crítica dos fatos
históricos. Nesse último aspecto, vale ressaltar que “Duas rainhas” enfoca aspectos
como a opressão do poder patriarcal, a manipulação religiosa, o machismo
covarde e mesmo outros preconceitos morais (como a homofobia), o que não deixa
de ser uma ousadia existencial nesses tempos de avanço da agenda
neo-reacionária mundo afora. As boas intenções de seu subtexto e as pretensões
artísticas da obra, entretanto, acabam se mostrando insuficientes diante da mãe
pesada de Rourke na condução da narrativa. Os excessos de uma atmosfera algo
solene jogam por diversas vezes o filme na vala comum do enfadonho e
previsível, o que faz de “Duas rainhas” uma produção rotineira dentro do gênero
filme de época.
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