A franquia “007” acabou tomando um outro direcionamento a
partir do momento em que Daniel Craig assumiu o papel de James Bond. A violência
ficou mais explícita, as histórias assumiram uma atmosfera soturna e Bond se
tornou um personagem brutal e um tanto sorumbático. Para muitos, esse novo
direcionamento representava uma traição àquele perfil de produções escapistas e
divertidas, além da caracterização do protagonista que primava por um misto de
charme e canalhice, tipo esse consagrado por Sean Connery, Roger Moore e Pierce
Brosnan. Deixando esses purismos de lado, é fato que essa fase recente teve ótimos
momentos dignos de entrar em qualquer antologia do melhor que já foi feito com
o personagem criado por Ian Fleming. A ação alucinada de “Cassino Royale” (2006)
e a elegância formal de “Skyfall” (2012) mostraram que a série ainda podia
render produções cativantes. Em “007 contra Spectre” (2015), a fórmula atual,
entretanto, já demonstra evidentes sinais de cansaço. É claro que estão
presentes algumas boas sacadas estéticas (o plano-sequência inicial é
memorável), além das trucagens apresentarem um nível gráfico expressivo. O
problema dessa nova aventura de 007 é uma narrativa esquemática em excesso e
pouco criativa. O roteiro faz suceder fatos de forma mecânica e pouco
convincente, não gerando interesse ou empatia, o que se estende para uma
caracterização pouco inspirada dos personagens (Blofeld, por exemplo, é
mostrado como um vilão qualquer, e não como o antagonista mais relevante da
extensa galeria de adversário de Bond). E mesma a pretensa seriedade temática
da era Craig acaba soando ridícula diante da forma simplória com que a trama
pretende se conectar com as histórias dos produções anteriores. Tiroteios,
pancadarias e explosões se acumulam e se mostram banais e incapazes de gerar
alguma efetiva tensão para o filme. Há boatos que dizem que Craig está pensando
em sair da pele do agente secreto mais famoso do cinema. Diante de sua eterna
cara de tédio em “Spectre” e da frouxidão da obra em questão, talvez tais suposições
não sejam tão fantasiosas.
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