É interessante observar como “Cativas – Presas pelo coração”
(2013) é uma obra que consegue ser tão emblemática tanto das qualidades quanto
dos vícios que marcam a contemporânea filmografia do documentário brasileiro. A
temática do filme em questão é bem determinada: o cotidiano das mulheres que
são namoradas e esposas de homens que se encontram cumprindo penas em
estabelecimentos prisionais. A abordagem concebida pela diretora Joana Nin
valoriza bastante o viés do dramático ao retratar as dificuldades e amarguras
que uma situação dessas pode trazer para a vida de suas protagonistas, mas por
vezes se permite um leve acento bem humorado. De certa forma, é um trabalho que
se mostra em conexões com outros exemplares recentes do gênero que buscam uma
espécie de síntese da natureza entre o sentimental, o melodramático e o brega,
a tentar buscar a essência da alma brasileira do cidadão típico dessa nova classe
C. Dentro de tal perspectiva, a cineasta abusa dos longos depoimentos em que
suas entrevistadas narram suas respectivas trajetórias de envolvimento com
amores “bandidos”. Em algumas dessas entrevistas, há nuances expressivas a
explicitar a natureza insondável de algumas escolhas pessoais. Em boa parte dos
outros depoimentos, entretanto, há uma certa atmosfera de enfado na repetição
excessiva de histórias e lamentações muito semelhantes entre si. Ainda assim,
em seu contexto geral, “Cativas” até consegue ter um saldo positivo
principalmente pelas sequências em que Nin consegue transcender a formatação
convencional. Nesse sentido, destaque absoluto para a sequência da visita
íntima, que culmina numa suarenta e ousada cena de sexo real filmada de forma
consentida. Antológica também são as tomadas finais, em que uma jovem mulher
percorre os labirínticos corredores de uma penitenciária até chegar ao pátio de
visitas e encontrar o seu amado, tudo isso ao som de uma pérola romântica de
Márcio Greyck.
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