terça-feira, novembro 24, 2015

Cativas - Presas pelo coração, de Joana Nin **1/2

É interessante observar como “Cativas – Presas pelo coração” (2013) é uma obra que consegue ser tão emblemática tanto das qualidades quanto dos vícios que marcam a contemporânea filmografia do documentário brasileiro. A temática do filme em questão é bem determinada: o cotidiano das mulheres que são namoradas e esposas de homens que se encontram cumprindo penas em estabelecimentos prisionais. A abordagem concebida pela diretora Joana Nin valoriza bastante o viés do dramático ao retratar as dificuldades e amarguras que uma situação dessas pode trazer para a vida de suas protagonistas, mas por vezes se permite um leve acento bem humorado. De certa forma, é um trabalho que se mostra em conexões com outros exemplares recentes do gênero que buscam uma espécie de síntese da natureza entre o sentimental, o melodramático e o brega, a tentar buscar a essência da alma brasileira do cidadão típico dessa nova classe C. Dentro de tal perspectiva, a cineasta abusa dos longos depoimentos em que suas entrevistadas narram suas respectivas trajetórias de envolvimento com amores “bandidos”. Em algumas dessas entrevistas, há nuances expressivas a explicitar a natureza insondável de algumas escolhas pessoais. Em boa parte dos outros depoimentos, entretanto, há uma certa atmosfera de enfado na repetição excessiva de histórias e lamentações muito semelhantes entre si. Ainda assim, em seu contexto geral, “Cativas” até consegue ter um saldo positivo principalmente pelas sequências em que Nin consegue transcender a formatação convencional. Nesse sentido, destaque absoluto para a sequência da visita íntima, que culmina numa suarenta e ousada cena de sexo real filmada de forma consentida. Antológica também são as tomadas finais, em que uma jovem mulher percorre os labirínticos corredores de uma penitenciária até chegar ao pátio de visitas e encontrar o seu amado, tudo isso ao som de uma pérola romântica de Márcio Greyck.

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