Poucos filmes conseguiram captar de forma tão plena as
contradições e dilemas do anos 60 quanto “Head – Os Monkees estão soltos”
(1968). Em seu longa-metragem de estreia, o diretor norte-americano Bob
Rafelson realizou uma obra conturbada e fervilhante de criatividade alucinada,
fazendo tanto um inventário de suas obsessões artísticas quanto um comentário
ácido sobre uma época de transição e mudanças em todos os sentidos (cultura,
comportamento, política e afins). A narrativa parece obedecer a um fluxo
aleatório de referências, pensamentos e imagens. Num primeiro momento, tudo
pode parecer gratuito ou puramente experimental, como se fosse apenas uma
grande brincadeira chapada de Rafelson e dos Monkees. Aos poucos, entretanto,
essa profusão de elementos e ideias vão adquirindo um sentido singular,
configurando uma perspectiva estética e temática de caráter crítico e irônico.
Os Monkees entrando num vórtice de cenas diversas que remetem aos gêneros
cinematográficos mais clássicos, a presença constante de figuras icônicas da
cultura pop (Victor Mature, a Coca Cola), a colagem de sequencias documentais,
as trucagens que remetem a um estilo psicodélico – tudo isso se combina numa
narrativa que se estrutura como um pesadelo sem fim e que ainda soa
tremendamente ousada nos dias de hoje no seu questionamento sobre a relação
entre arte e comércio. A trilha sonora, composta por melodiosas e lisérgicas
canções da banda protagonista, é o complemento exato a sublinhar essa obra marcada
pela esquisitice formal e por uma lucidez desconcertante.
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