sexta-feira, novembro 20, 2015

Head - Os Monkees estão soltos, de Bob Rafelson ****

Poucos filmes conseguiram captar de forma tão plena as contradições e dilemas do anos 60 quanto “Head – Os Monkees estão soltos” (1968). Em seu longa-metragem de estreia, o diretor norte-americano Bob Rafelson realizou uma obra conturbada e fervilhante de criatividade alucinada, fazendo tanto um inventário de suas obsessões artísticas quanto um comentário ácido sobre uma época de transição e mudanças em todos os sentidos (cultura, comportamento, política e afins). A narrativa parece obedecer a um fluxo aleatório de referências, pensamentos e imagens. Num primeiro momento, tudo pode parecer gratuito ou puramente experimental, como se fosse apenas uma grande brincadeira chapada de Rafelson e dos Monkees. Aos poucos, entretanto, essa profusão de elementos e ideias vão adquirindo um sentido singular, configurando uma perspectiva estética e temática de caráter crítico e irônico. Os Monkees entrando num vórtice de cenas diversas que remetem aos gêneros cinematográficos mais clássicos, a presença constante de figuras icônicas da cultura pop (Victor Mature, a Coca Cola), a colagem de sequencias documentais, as trucagens que remetem a um estilo psicodélico – tudo isso se combina numa narrativa que se estrutura como um pesadelo sem fim e que ainda soa tremendamente ousada nos dias de hoje no seu questionamento sobre a relação entre arte e comércio. A trilha sonora, composta por melodiosas e lisérgicas canções da banda protagonista, é o complemento exato a sublinhar essa obra marcada pela esquisitice formal e por uma lucidez desconcertante.

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