quinta-feira, novembro 26, 2015

Os Maias - Cenas da vida romântica, de João Botelho ***1/2

Para o diretor português João Botelho, não bastava simplesmente adaptar o original literário de “Os Maias – Cenas da vida romântica” (2014) para dentro de uma linguagem cinematográfica. Para o cineasta, primordial era preservar a essência temática da obra e valorizar a prosa lapidada ao extremo do escritor Eça de Queiroz. Para isso, Botelho recusou a simples encenação naturalista e apostou numa estilização formal acentuada. A produção se baseia em truques estéticos simples e na empostação dos diálogos. É como se a preocupação não fosse que aquilo que se vê em tela fosse crível ou acessível para o espectador moderno, interessando mais criar uma determinada atmosfera que se preocupasse em colocar o espectador dentro de um vórtice sensorial. Nesse sentido, a Lisboa que se revela na obra é quase difusa, beirando o onírico – parece uma capital portuguesa do século XIX que habita o imaginário de um possível leitor apaixonado de Eça. O texto que brota da tela através da narração e dos diálogos vem num tom solene, por vezes declamado. Ao invés do anacronismo tedioso, tal recurso provoca um estranho encantamento pela força e encadeamento dessas palavras e diálogos que denotam uma ampla gama de sentimentos e sensações. A trama de “Os Maias” pode sugerir em sua superfície uma tragédia novelesca, mas nas suas entrelinhas traz um fino senso de humor a satirizar as hipocrisias e mesquinharias da sociedade portuguesa da época. É grande mérito de João Botelho saber preservar essas geniais nuances da escrita de Eça, traduzindo esse clima de decadência sedutora em várias sequencias antológicas, o que fica evidente principalmente nas cenas em que a ácida metralhadora verbal de João da Ega (Pedro Inês) se manifesta e na lassidão perturbadora da última sequência de sexo entro Carlos da Maia (Graciano Dias) e Maria Eduarda (Maria Flor).

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