O canadense Denis Villeneuve é um cineasta que mostra geralmente
em seus filmes boa mão para cenas de ação e para construir narrativas fluentes.
O que incomoda em filmes como “Incêndios” (2010) e “Os suspeitos” (2013),
entretanto, é o tom solene da ambientação e a queda para os clichês mais
baratos do suspense e do melodrama, fazendo com que por vezes se tenha a
impressão de se estar assistindo a um grande novelão. Em sua produção mais
recente, “Sicario” (2015), não dá para dizer que ele tenha se livrado de forma
plena de tais vícios, mas ainda assim entrega um trabalho bem mais satisfatório
e memorável. Para que isso tenha acontecido, contou com dois grandes trunfos: a
exuberante fotografia de Roger Deakins (indispensável assistir “Sicario” numa
sala de cinema para fruir das nuances sensacionais de enquadramentos e
iluminação) e a sinistra trilha sonora composta pelo islandês Jóhann Jóhansson.
Além disso, a encenação concebida por Villeneuve se mostra ainda mais elaborada
e dinâmica que o habitual. Por mais que o roteiro seja previsível em seu
desenvolvimento, o requinte formal do filme consegue extrair momentos de tensão
bem convincentes. O que impede “Sicario” de atingir um nível artístico mais
transcendente é o fato de Villeneuve continuar se levando mais a sério do que
merece. Com alguma constância, surgem sequencias que assumem um caráter
messiânico a anunciar a corrupção e prepotência de agências de segurança do
governo como se estivessem expressando uma grande novidade, o que acaba soando
um pouco ridículo diante de uma caracterização superficial e óbvia de situações
e personagens – ainda que esses últimos sejam rasos na sua construção
psicológica, há de se ressaltar as ótimas e carismáticas atuações de Josh
Brolin e Benicio Del Toro. No mais, falta para “Sicário” o estofo criativo e as
atmosferas de perturbadora sordidez de “Selvagens” (2012), filme que também
retratava os violentos grupos mexicanos de tráfico de drogas, e mesmo aquele
vigor casca grossa de “Miami Vice” (2006) para que entre no rol dos policiais
contemporâneos antológicos. Mas do jeito que ficou, ainda é um prato cheio para
os curtidores do gênero.
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