quinta-feira, novembro 05, 2015

Sicario, de Denis Villeneuve ***

O canadense Denis Villeneuve é um cineasta que mostra geralmente em seus filmes boa mão para cenas de ação e para construir narrativas fluentes. O que incomoda em filmes como “Incêndios” (2010) e “Os suspeitos” (2013), entretanto, é o tom solene da ambientação e a queda para os clichês mais baratos do suspense e do melodrama, fazendo com que por vezes se tenha a impressão de se estar assistindo a um grande novelão. Em sua produção mais recente, “Sicario” (2015), não dá para dizer que ele tenha se livrado de forma plena de tais vícios, mas ainda assim entrega um trabalho bem mais satisfatório e memorável. Para que isso tenha acontecido, contou com dois grandes trunfos: a exuberante fotografia de Roger Deakins (indispensável assistir “Sicario” numa sala de cinema para fruir das nuances sensacionais de enquadramentos e iluminação) e a sinistra trilha sonora composta pelo islandês Jóhann Jóhansson. Além disso, a encenação concebida por Villeneuve se mostra ainda mais elaborada e dinâmica que o habitual. Por mais que o roteiro seja previsível em seu desenvolvimento, o requinte formal do filme consegue extrair momentos de tensão bem convincentes. O que impede “Sicario” de atingir um nível artístico mais transcendente é o fato de Villeneuve continuar se levando mais a sério do que merece. Com alguma constância, surgem sequencias que assumem um caráter messiânico a anunciar a corrupção e prepotência de agências de segurança do governo como se estivessem expressando uma grande novidade, o que acaba soando um pouco ridículo diante de uma caracterização superficial e óbvia de situações e personagens – ainda que esses últimos sejam rasos na sua construção psicológica, há de se ressaltar as ótimas e carismáticas atuações de Josh Brolin e Benicio Del Toro. No mais, falta para “Sicário” o estofo criativo e as atmosferas de perturbadora sordidez de “Selvagens” (2012), filme que também retratava os violentos grupos mexicanos de tráfico de drogas, e mesmo aquele vigor casca grossa de “Miami Vice” (2006) para que entre no rol dos policiais contemporâneos antológicos. Mas do jeito que ficou, ainda é um prato cheio para os curtidores do gênero.

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