No histórico pessoal do diretor Gregório Graziasi, consta
que por um tempo ele foi estudante de arquitetura. Em seu primeiro
longa-metragem, “Obra” (2013), tal referência não passa despercebida. O
protagonista da trama, João Carlos (Irandhir Santos), é um arquiteto, enquanto
o cerne da concepção formal do filme se baseia na direção de fotografia que
valoriza bastante os cenários urbanos de prédios e asfaltos da cidade de São
Paulo. Os enquadramentos compõem um ambientação ambígua, que oscila entre o
requinte plástico de formas e texturas e o sufocamento do concreto duro e frio
típico da capital paulista. A intenção de Graziasi é clara – estabelecer um
paralelo entre essa arquitetura caótica, mista de beleza melancólica e feiura
opressiva, com o estado de angústia existencial do personagem principal. A
trama, formatada dentro de uma estrutura narrativa ligada ao gênero suspense,
ao poucos se expande para uma conotação mais simbólica, a retratar
principalmente a desigualdade social e o conflito de classes típicos da
sociedade brasileira contemporânea. Se as intenções artísticas de Graziasi são
ambiciosas e ousadas, por outro lado a execução de suas concepções deixa
bastante a desejar. É inegável que a produção apresenta um esmero estético, mas
isso não consegue se vincular a uma narrativa envolvente. A encenação é
engessada, sem frescor ou naturalidade, e mesmo as pretensas metáforas do
roteiro se efetivam de forma primária e artificial. A falta de traquejo
narrativo em “Obra” compromete até mesmo as atuações do elenco, onde mesmo a
intepretação de um ator diferenciado como Irandhir Santos se mostra afetada e
pouco convincente.
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