O fato de Dr. Dre e Ice Cube, membros originais do N.W.A.,
serem produtores da cinebiografia do lendário grupo de rap, “Straight Outta
Comtpon – A história do N.W.A.” (2015), acaba não passando o incólume. Por
vários momentos, a produção parece ter um caráter institucional ou de marketing
pessoal dos artistas focados. Os quinze minutos finais do filme são bem
emblemáticos dessa tendência de propaganda autocelebratória. E é justamente aí
que reside as sequências mais fracas da obra dirigida por F. Gary Gray, ficando
visível um artificialismo incômodo na narrativa. Por outro lado, existem outros
motivos que fazem com que se entenda porque “Straight Outta Compton” tenha
gerado tanta empatia com uma expressiva parcela do público. Para começar, as
cenas envolvendo ensaios, gravações em estúdio e shows são empolgantes na forma
com que conjugam a música impactante do N.W.A. com uma encenação precisa e
icônica. É de se destacar ainda que Gray é um diretor competente para cenas de
ação, o que fica evidente na tensa sequência de abertura do filme, além dos
momentos que retratam o cotidiano dos personagens principais com repressão
policial e envolvimento com criminalidade. E falando nessa questão da
brutalidade da polícia, aí reside também um dos grandes méritos da produção,
que transparece uma raiva sincera e contundente por parte da população negra
nos Estados Unidos diante de uma conjuntura de sistemático desrespeito com
direitos humanos por parte de órgãos de segurança do Estado e preconceitos raciais
diversos a gerar situações humilhantes e vexatórias. O roteiro não abre
concessões e nem soluções conciliatórias e paternalistas em sua visão de mundo:
todos os personagens brancos são vistos como racistas e exploradores, enquanto
que o teor desbocado e revoltado das letras do N.W.A. é a consequência natural
e justa contra a hipocrisia e preconceito social da sociedade norte-americana.
Discordando ou não de tal ótica, é inegável que ela é ousada e desafiadora
perante um status quo tão alienado e conformista.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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