quarta-feira, novembro 04, 2015

45 anos, de Andrew Haigh ***

Há uma impressão de letargia que pontua boa parte da duração de “45 anos” (2015). A direção de Andrew Haigh é bastante austera na sua concepção narrativa – assim como não há grandes arroubos criativos em termos estéticos, também é perceptível que o cineasta não se deixa levar por truques sentimentais para facilitar a vida do espectador. Mesmo a trama é marcada por uma conotação modorrenta, em que os fatos da história contada se sucedem de forma lenta e com variações sutis. Os motes principais do roteiro se desenvolvem em alguns poucos dias da semana em que ocorrerá a festa de 45 anos de casado casal protagonista Geoff e Kate Mercer (Tom Courtenay e Charlotte Rampling em atuações precisas), obedecendo a uma lógica de repetições de atos do cotidiano e de um certo imobilismo existencial por parte dos personagens principais que por vezes pode levar a uma sensação de tédio sonolento para quem assiste ao filme. O que pode parecer um formalismo irritante aos poucos vai revelando uma coerência sensorial notável. Por trás da atmosfera taciturna e da interação entre os indivíduos baseados em olhares e gestos expressivos e diálogos superficiais há uma espécie de discreta revolução intimista a dissecar a ilusão de felicidade pequeno burguesa. As irônicas e ácidas sequências finais de “45 anos” reafirmam o seu caráter levemente subversivo, tanto no discurso hipócrita e no passos de dança debochados de Geoff quanto na expressão de amargura e frustração de Kate.

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