Mais do que cineasta, a norte-americana Miranda July é essencialmente
uma artista multimídia. Nesse sentido, suas produções cinematográficas mais
parecem um laboratório de suas ideias e obsessões artísticas do que
propriamente filmes perfeitamente acabados. Coerente com tal proposta, “O
futuro” (2011) pode frustrar aqueles que esperam um formalismo rebuscado ou
equilibrado. Quem estiver com a mente mais aberta para a proposta estética de
July, entretanto, pode até se sentir envolvido em algumas cenas com a narrativa
trôpega e que por vezes extrapola para o fabular. Não se trata de uma obra de
fácil digestão – as situações e dilemas do roteiro são expostos num tom
oscilante e fragmentado, com os eventos da tramas e mesmo a caracterização
psicológica dos personagens se desenvolvendo pelas vias do aleatório e do onírico.
Por vezes, predomina uma certa ambiência de distanciamento emocional. Em outras
passagens, a combinação entre intimismo cortante e elementos de ficção
científica acaba criando uma atmosfera estranha e perturbadora. Mesmo que o
resultado final de “O futuro” seja irregular, as ousadias e excentricidades de
July acabam criando algumas cenas capazes de se fixar sutilmente em nosso
imaginário.
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