O diretor francês Jacques Audiard teve uma
interessante sacada narrativa em “Dheepan – O refúgio” (2015) ao formatar o
filme dentro de uma estrutura clássica do gênero faroeste. É só observar os
pontos chaves da trama. A migração do Sri Lanka para a França do ex-guerrilheiro
Dheepan (Antonythasan Jesuthasan),
da jovem Yalini (Kalieaswari Srinivasan) e da pequena Illayaal (Claudine
Vinasithamby), estranhos entre si e que fingem ser uma família, fugindo de um
cotidiano de guerra constante e privações em busca de estabilidade econômica e
social traz clara relação com os pioneiros que séculos atrás desbravaram o
selvagem oeste norte-americano em busca de uma vida melhor; a rotina conturbada
da “família” em um condomínio popular francês dominado por traficantes remete
ao dia-a-dia daqueles que conviviam com pistoleiros e assaltantes de bancos e diligências
no velho oeste; o dilema existencial de Dheepan entre a recusa a assumir sua antiga
condição de homem violento e homicida e a necessidade de preservar sua
integridade física e daqueles que o cercam é o mesmo de anti-heróis antológicos
como o William Munny da obra-prima “Os imperdoáveis” (1992). Por fim, a
memorável e brutal sequência em que o protagonista invade sozinho um prédio
repleto de marginais para resgatar Yalini é o correspondente das habituais
cenas finais de duelos entre mocinhos e bandidos. Também é mérito de Audiard
conseguir enquadrar de maneira orgânica e convincente essa espécie de faroeste
contemporâneo dentro de uma perspectiva típica de um drama que varia de forma
notável entre o social e o intimista. Nesse sentido, o caráter humanista de “Dheepan”
é bastante acentuado na sua profunda e sensível caracterização psicológica de
personagens e situações, qualidade essa que Audiard já tinha mostrado domínio
em obras contundentes como “De tanto bater meu coração parou” (2005) e “O
profeta” (2009) – essa última, por sinal, uma singular recriação do gênero “policial/gangster”.
Um comentário:
Um dos grandes filmes do ano
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