Se em “Elena” (2012) a diretora Petra Costa realizou um
documentário marcado por um subjetivismo que fazia com que a obra beirasse a
ficção, em “Olmo e a gaivota” (2014), codirigido com a dinamarquesa Lea Glob,
ela novamente se embrenha em uma fronteira nebulosa entre o real e o
imaginário. Essa produção mais recente apresenta uma estrutura narrativa
intrincada, em que as situações e os personagens podem ser considerados “verdadeiros”,
só que se desenvolvem de forma encenada, com direito, inclusive, a intervenções
diretas das realizadoras interagindo com seus atores. Esse hibrido de cinema
verdade, ficção, metalinguagem e teatro (os “personagens” são em sua maioria
profissionais do meio) apresenta um sensorialismo desconcertante, pois os
recursos estéticos não estão ali apenas para experimentos de linguagem,
mostrando também um sintonia notável com a própria temática do filme. A obra se
propõe a uma espécie de desnudamento sentimental da protagonista Olivia
Corsini, uma atriz que se descobre grávida justamente quando estava em vias de
estrear em uma ambiciosa montagem de “A gaivota”, de Anton Tchecov, acaba tendo
de abandonar a peça e entra em uma crise existencial ao ter de ficar recolhida
em casa durante o período de gestação. Através dessa história intimista, as
diretora propõem um olhar ao mesmo tempo cru e sensível da condição feminina
perante ao machismo e ao materialismo típicos da sociedade ocidental
contemporânea. E não se trata de mera chorumela sentimentalista – ainda que não
tenha a contundência formal e o clima de loucura e onirismo constantes de “Elena”,
“Olmo e a gaivota” é contundente e sem concessões no seu discurso estilístico e
de conteúdo.
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