É bastante evidente em “A bruta flor do querer” (2013) um
forte teor narcisista como um dos principais motes criativos da obra. A
configuração da trama e da narrativa obedece a um fluxo memorialista e
subjetivo dos diretores Dida Andrade e Andradina Azevedo. Se por um lado essa
tendência de olhar para o próprio umbigo leva o filme por vezes para um viés
artístico autocomplacente, é inegável também que representa um olhar autoconsciente
de seus cineastas para sua arte e para suas próprias vida, rendendo para a
produção aquilo que ela tem de mais memorável e vigoroso. Os parcos recursos de
que Andrade e Azevedo dispõem são aproveitados quase ao máximo em suas
possibilidades – tal precariedade se incorpora à narrativa como razão
existencial, dando sentido ao filme tanto em termos temáticos quanto num
formalismo que revela sensibilidade e sofisticação. Isso pode ser percebido em
detalhes sutis como a direção de fotografia rústica e expressiva, as atuações
maneiristas e intensas do elenco, as boas sacadas no uso de canções alheias e
nos temas próprios da trilha sonora, os jogos metalinguísticos. Mesmo o manjado
tripé sexo-drogas-rock and roll (com toques de MPB, jazz e música clássica)
rende algumas sequências bastante perturbadoras e pungentes pela forma
impactante e sincera com que são filmadas. Se com o tempo Andrade e Azevedo
conseguirão amadurecer esse traço pessoal e autoral, apenas se adequarem a um
formato mais convencional de fazer cinema ou simplesmente sumirem do mapa da
produção nacional é algo a se conferir. O que se tem no presente é que com “A
bruta flor do querer” conseguiram gerar uma obra capaz de grudar no imaginário
do espectador de mente mais aberta, o que não deixa de ser uma façanha
considerável.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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