terça-feira, abril 12, 2016

Rua Cloverfield, 10, de Dan Trachtenberg ***1/2

Apesar das tramas pertencerem ao mesmo universo temático, há diferenças gritantes na formatação de “Cloverfield – Monstro” (2008) e “Rua Cloverfield, 10” (2016). Enquanto a primeira produção se vincula a estética da “câmera subjetiva”, com muitas cenas tremidas ou com a ação principal fora de foco, o filme mais recente se vale de uma abordagem estética mais tradicional. E dentro desse aparente convencionalismo, a obra dirigida por Dan Trachtenberg se mostra bem mais satisfatória e memorável. Vale ressaltar que essa preferência por recursos narrativos mais “óbvios” é executada com bastante elegância e precisão. As primeiras tomadas são exemplares dessa tendência – da partida apressada da protagonista Michelle (Mary Elizabeth Winstead) da casa que em que vivia numa metrópole modernosa populosa, passando por sua fuga pelo interior do país e chegando ao abalroamento de seu veículo na estrada, há um senso narrativo admirável, quase que exclusivamente visual e baseado no poder da sugestão, não havendo aquela necessidade de entregar tudo mastigado para o espectador. Quando a ação passa para os espaços reduzidos de um abrigo antiaéreo, em que Michelle é mantida em cativeiro pelo paranoico Howard (John Goodman), a ambientação e o suspense se tornam claustrofóbicos. Trachtenberg consegue dosar de maneira concisa tensão, ironia e violência gráfica, aproveitando muito das possibilidades criativas de um cenário reduzido e sombrio, além de contar com a atuação carismática de Winstead e um desempenho assustador de Goodman (o cara tem a manha para criar tipos psicóticos inesquecíveis, vide “Barton Fink” e “O grande Lebowski”). Durante boa de sua duração, “Rua Cloverfield, 10” se sustenta de forma equilibrada entre o suspense psicológico e a atmosfera de fantasia. Em suas sequências finais, entretanto, descamba para um misto de aventura e ficção científica alucinada, com cenas de ação dirigidas com intensidade e clareza notáveis. Essa oscilação de gêneros pode soar estapafúrdia, mas dentro da formatação criada por Trachtenberg soa natural e convincente, como se fosse uma atualização apaixonada dos trejeitos e maneirismos típicos de antigas produções B.

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