Boa parte das inovações tecnológicas das quais a sociedade
já desfrutou (e ainda desfruta) tem por origem a descoberta para fins
militares. Dessa forma, não deixa de ser irônico que aquilo que é usado pela
maioria das pessoas como necessidade e prazer teve por fim primordialmente uma
letalidade de caráter moral duvidoso. Esse dilema vem à mente quando se assiste
à “Decisão de risco” (2015). Em termos temáticos, a obra do diretor Gavin Hood
se propõe como uma visão crítica sobre as escolhas éticas a envolver danos
colaterais (baixas civis, principalmente) em operações militares no combate ao
terrorismo. É louvável nessa reflexão do roteiro do filme que não há uma
procura por soluções fáceis e conciliatórias, com uma trama que expõe algumas
expressivas nuances políticas e sociais que envolvem decisões sobre a vida e
morte dos inimigos do ocidente, permitindo-se ainda até alguns toques irônicos
surpreendentes (o general que pouco antes de comandar uma ação de captura está
indeciso na compra de uma boneca para a filha ou o fleumático ministro das
relações exteriores britânico que toma uma importante decisão militar sentado
num vaso sanitário durante um desarranjo intestinal). Por outro lado, Hood
demonstra um encanto com todos os brinquedos bélicos que são mostrados ao longo
da história, principalmente com drones de multiusos (ataques devastadores,
espionagem). Toda essa tecnologia é esmiuçada com um detalhismo esmerado,
incorporando-se de forma fluida nas rigorosas encenação e montagem da produção.
Nesse sentido, a dinâmica narrativa e o cuidado das composições cênicas fazem
lembrar o extraordinário “Falcão negro em perigo” (2001). Ainda que talvez essa
ambiguidade entre o olhar crítico sobre a guerra ao terror e a atração imagética
pelo aparato militar não tenha sido a intenção inicial de Hood, ela acaba sendo
emblemática dos tempos confusos em que vivemos e faz de “Decisão de risco” uma
interessante obra a refletir alguns dilemas morais tortuosos contemporâneos.
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