segunda-feira, abril 18, 2016

Decisão de risco, de Gavin Hood ***

Boa parte das inovações tecnológicas das quais a sociedade já desfrutou (e ainda desfruta) tem por origem a descoberta para fins militares. Dessa forma, não deixa de ser irônico que aquilo que é usado pela maioria das pessoas como necessidade e prazer teve por fim primordialmente uma letalidade de caráter moral duvidoso. Esse dilema vem à mente quando se assiste à “Decisão de risco” (2015). Em termos temáticos, a obra do diretor Gavin Hood se propõe como uma visão crítica sobre as escolhas éticas a envolver danos colaterais (baixas civis, principalmente) em operações militares no combate ao terrorismo. É louvável nessa reflexão do roteiro do filme que não há uma procura por soluções fáceis e conciliatórias, com uma trama que expõe algumas expressivas nuances políticas e sociais que envolvem decisões sobre a vida e morte dos inimigos do ocidente, permitindo-se ainda até alguns toques irônicos surpreendentes (o general que pouco antes de comandar uma ação de captura está indeciso na compra de uma boneca para a filha ou o fleumático ministro das relações exteriores britânico que toma uma importante decisão militar sentado num vaso sanitário durante um desarranjo intestinal). Por outro lado, Hood demonstra um encanto com todos os brinquedos bélicos que são mostrados ao longo da história, principalmente com drones de multiusos (ataques devastadores, espionagem). Toda essa tecnologia é esmiuçada com um detalhismo esmerado, incorporando-se de forma fluida nas rigorosas encenação e montagem da produção. Nesse sentido, a dinâmica narrativa e o cuidado das composições cênicas fazem lembrar o extraordinário “Falcão negro em perigo” (2001). Ainda que talvez essa ambiguidade entre o olhar crítico sobre a guerra ao terror e a atração imagética pelo aparato militar não tenha sido a intenção inicial de Hood, ela acaba sendo emblemática dos tempos confusos em que vivemos e faz de “Decisão de risco” uma interessante obra a refletir alguns dilemas morais tortuosos contemporâneos.

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