sexta-feira, abril 22, 2016

Mogli - O menino lobo, de Jon Favreau ****

O diretor norte-americano Jon Favreau é aquele tipo de cara que quem gosta de cinema acaba simpatizando. Afinal, teve uma participação marcante como ator principal no clássico indie “Swingers” (1996), foi um coadjuvante simpático em outras produções (vide “Eu te amo, cara”) e como cineasta foi responsável pelas duas primeiras partes da franquia “Homem de ferro”. Mas é agora com “Mogli – O menino lobo” (2016) que ele cola o seu nome no imaginário cinematográfico de maneira definitiva. Trata-se de uma das mais felizes conjugações entre inspiração criativa e amplos recursos de grande produção dos últimos tempos. Pode parecer a princípio que seja mais uma maneira de Hollywood ter um lucro fácil em cima de uma história clássica e que já tinha rendido uma versão em animação magnífica pela mesma Disney que banca esse trabalho de Favreau. Ocorre, entretanto, que a obra em questão e uma atualização ousada da obra literária original de Rudyard Kipling, não no sentido de alterar a trama, mas na construção de uma ambientação sombria e visceral, além de personagens de caracterização psicológica mais complexa. Ainda que a beleza plástica da direção de arte e do traço das criaturas digitais impressione pela limpidez e realismo, é fascinante como o filme preserva algo de rústico e sujo em sua concepção visual e mesmo na sua atmosfera. Isso pode ser constatado na violência gráfica dos embates entre os animais e mesmo na caracterização de Mogli (Neel Sethi), que parece um verdadeiro garoto selvagem, nada asséptico e repleto de cicatrizes e manchas de sangue. Favreau também acerta na encenação alucinada e detalhista das sequencias de ação, além de valorizar com sensibilidade as nuances dramáticas do roteiro. É interessante ainda observar que o dilema principal da trama tem um desenlace bem diferente daquele da animação, fazendo com que a figura de Mogli se mostre até mais desafiadora dentro da relação homem e natureza. Diante de todos esses aspectos positivos, dá até vontade que Favreau volte a dirigir um filme da Marvel.

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