O diretor norte-americano Jon Favreau é aquele tipo de cara
que quem gosta de cinema acaba simpatizando. Afinal, teve uma participação
marcante como ator principal no clássico indie “Swingers” (1996), foi um
coadjuvante simpático em outras produções (vide “Eu te amo, cara”) e como
cineasta foi responsável pelas duas primeiras partes da franquia “Homem de
ferro”. Mas é agora com “Mogli – O menino lobo” (2016) que ele cola o seu nome
no imaginário cinematográfico de maneira definitiva. Trata-se de uma das mais
felizes conjugações entre inspiração criativa e amplos recursos de grande
produção dos últimos tempos. Pode parecer a princípio que seja mais uma maneira
de Hollywood ter um lucro fácil em cima de uma história clássica e que já tinha
rendido uma versão em animação magnífica pela mesma Disney que banca esse
trabalho de Favreau. Ocorre, entretanto, que a obra em questão e uma
atualização ousada da obra literária original de Rudyard Kipling, não no
sentido de alterar a trama, mas na construção de uma ambientação sombria e
visceral, além de personagens de caracterização psicológica mais complexa.
Ainda que a beleza plástica da direção de arte e do traço das criaturas
digitais impressione pela limpidez e realismo, é fascinante como o filme
preserva algo de rústico e sujo em sua concepção visual e mesmo na sua
atmosfera. Isso pode ser constatado na violência gráfica dos embates entre os
animais e mesmo na caracterização de Mogli (Neel Sethi), que parece um
verdadeiro garoto selvagem, nada asséptico e repleto de cicatrizes e manchas de
sangue. Favreau também acerta na encenação alucinada e detalhista das
sequencias de ação, além de valorizar com sensibilidade as nuances dramáticas
do roteiro. É interessante ainda observar que o dilema principal da trama tem
um desenlace bem diferente daquele da animação, fazendo com que a figura de
Mogli se mostre até mais desafiadora dentro da relação homem e natureza. Diante
de todos esses aspectos positivos, dá até vontade que Favreau volte a dirigir
um filme da Marvel.
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