Nas primeiras sequências de “Para minha amada morta” (2015),
há elementos e indícios promissores para a produção – as premissas do roteiro
sugerem caminhos contundentes para a trama, o formalismo apresenta algumas
nuances interessantes em termos de atmosfera e tratamento visual, a abordagem
narrativa revela uma certa sobriedade. Com o desenrolar da história,
entretanto, essas boas impressões iniciais acabam se diluindo de maneira
frustrante. O que era para ser tenso e perturbador acaba se configurando apenas
como enfadonho. Faltou coragem artística para o diretor Aly Muritiba na forma
com que acomoda suas soluções temáticas e estéticas. É claro que é complicado
querer dizer como deveriam ser os rumos certos de um roteiro, mas a verdade é
que para ter uma coerência existencial nos rumos da trama era necessário que as
resoluções fossem mais extremas e menos conciliatórias. Deveria ter mais
violência, sexo e sordidez para que os dilemas e contradições do protagonista
Fernando (Fernando Alves Pinto) fossem mais palpáveis e efetivamente
perturbadores. Mesmo no relacionamento entre os personagens não há uma concisão
dramática e um aprofundamento na dinâmica entre eles, ficando tudo num nível
muito superficial. A conclusão do filme espelha com fidelidade os rumos
oscilantes da abordagem de Muritiba – a decisão de Fernando em deixar tudo para
lá podia ter sido tomada logo no início do filme, fazendo com que toda a sua
trajetória ao longo da trama pareça sem sentido e inútil, revelando ainda um
moralismo incômodo. Se for para se comparar dentro do gênero suspense no âmbito
nacional, falta para “Para minha amada morta” a tensão pelo inesperado de “Quando
eu era vivo” (2014) e a ambiência de sensualidade exasperada e violência
psicológica de “O lobo atrás da porta” (2013), ou seja, características que
poderiam tornar o trabalho de Muritiba uma experiência memorável para o
expectador.
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