É interessante perceber que há uma sintonia existencial e
artística entre “A juventude” (2015) e o filme imediatamente anterior do
diretor italiano Paolo Sorrentino, “A grande beleza” (2013). Ambas as obras se
pretendem como uma espécie de síntese entre reinterpretação, atualização e
homenagem a uma série de maneirismos estéticos e temáticos da época áurea do
cinema italiano (algo entre as décadas de 50 a 70). Essa abordagem do cineasta
se mostra pertinente ao se relacionar com a atualidade, tanto no panorama
sócio-político quanto no cenário cinematográfico. A pretensão de Sorrentino é
evidenciar em tais produções humanismo e erudição que se mostram cada vez mais
ausentes nas relações humanas do mundo contemporâneo, além de adotar uma linguagem
formal reflexiva e rebuscada que destaque um cinema distante do padrão
frenético de Hollywood. Em “A grande beleza”, tais preceitos resultavam num
filme envolvente e repleto de ironia refinada, ainda que no conjunto geral não
tivesse o mesmo impacto sensorial de “O divo” (2008), a grande obra-prima de
Sorrentino. Em “A juventude”, a aludida fórmula artística desanda de maneira
fragorosa. Não que seja um filme ruim – é apenas anódino, sem alma. Por mais
que haja uma grande pretensão intelectual nas elocubrações dos personagens,
expressivos voos virtuosísticos em algumas soluções formais e um distanciamento
emocional cool na atmosfera da produção, nada disso consegue fazer com que a
narrativa cative ou encante. As referências culturais realmente são
sofisticadas, como a evocação do onirismo de “Oito e meio” (1963) ou o
decadentismo elegante de “Morte em Veneza” (1971), além é claro da ambientação
remeter diretamente ao grande clássico literário “A montanha mágica”. Falta
para Sorrentino, entretanto, a esfuziante criatividade de Fellini ou o senso
operístico derramado e por vezes sórdido de Luchino Visconti. “A juventude” se
perde em uma plasticidade fotogênica estéril, na redundância dos diálogos e situações
do roteiro e na solenidade empostada das interpretações de seu elenco. Em
alguns momentos, é até agradável de ver na sua confluência de belos cenários e
mulheres bonitas, além da trilha sonora ser efetivamente brilhante. Mas no
final das contas acaba sendo muito pouco para um diretor como Sorrentino.
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