quinta-feira, abril 07, 2016

A juventude, de Paolo Sorrentino **

É interessante perceber que há uma sintonia existencial e artística entre “A juventude” (2015) e o filme imediatamente anterior do diretor italiano Paolo Sorrentino, “A grande beleza” (2013). Ambas as obras se pretendem como uma espécie de síntese entre reinterpretação, atualização e homenagem a uma série de maneirismos estéticos e temáticos da época áurea do cinema italiano (algo entre as décadas de 50 a 70). Essa abordagem do cineasta se mostra pertinente ao se relacionar com a atualidade, tanto no panorama sócio-político quanto no cenário cinematográfico. A pretensão de Sorrentino é evidenciar em tais produções humanismo e erudição que se mostram cada vez mais ausentes nas relações humanas do mundo contemporâneo, além de adotar uma linguagem formal reflexiva e rebuscada que destaque um cinema distante do padrão frenético de Hollywood. Em “A grande beleza”, tais preceitos resultavam num filme envolvente e repleto de ironia refinada, ainda que no conjunto geral não tivesse o mesmo impacto sensorial de “O divo” (2008), a grande obra-prima de Sorrentino. Em “A juventude”, a aludida fórmula artística desanda de maneira fragorosa. Não que seja um filme ruim – é apenas anódino, sem alma. Por mais que haja uma grande pretensão intelectual nas elocubrações dos personagens, expressivos voos virtuosísticos em algumas soluções formais e um distanciamento emocional cool na atmosfera da produção, nada disso consegue fazer com que a narrativa cative ou encante. As referências culturais realmente são sofisticadas, como a evocação do onirismo de “Oito e meio” (1963) ou o decadentismo elegante de “Morte em Veneza” (1971), além é claro da ambientação remeter diretamente ao grande clássico literário “A montanha mágica”. Falta para Sorrentino, entretanto, a esfuziante criatividade de Fellini ou o senso operístico derramado e por vezes sórdido de Luchino Visconti. “A juventude” se perde em uma plasticidade fotogênica estéril, na redundância dos diálogos e situações do roteiro e na solenidade empostada das interpretações de seu elenco. Em alguns momentos, é até agradável de ver na sua confluência de belos cenários e mulheres bonitas, além da trilha sonora ser efetivamente brilhante. Mas no final das contas acaba sendo muito pouco para um diretor como Sorrentino.

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