Num primeiro momento, a premissa inicial e mesmo os
desdobramentos da trama de “Phoenix” (2014) podem sugerir algo de novelesco. A história
parece rocambolesca e um tanto exagerada: a judia Nelly (Nina Hoss),
desfigurada por um tiro que recebeu em um campo de concentração, retorna para a
Alemanha pouco após o fim da 2ª Guerra, faz uma cirurgia plástica que lhe dá um
novo rosto, sai em busca do marido (Ronald Zehrfeld), que acredita que ela está
morta, e ao encontrá-lo acaba descobrindo o seu verdadeiro e questionável
caráter. O fascinante no filme é a forma com que o diretor Christian Petzhold
transforma essa estrutura de melodrama em uma elegante narrativa, combinando um
requintado formalismo com uma sobriedade emocional admirável. Mesmo que o
roteiro possa sugerir em alguns momentos arroubos sentimentais, o rigor estético
da produção é tão preciso que faz com que a narrativa permaneça equilibrada.
Essa equação artística baseada na contenção e na sutileza gera uma obra de
atmosfera repleta de nuances que se situam entre o perturbador e o encantador.
Repare-se, por exemplo, como a canção “Speak low” se insinua em trechos chaves
da trama e se transforma numa peça fundamental no desfecho da história, ou como
as noções de sensualidade e tragédia convivem e se misturam dentro da encenação
detalhista proposta por Petzhold. Essa abordagem do cineasta é tão rica em seus
elementos e referências que faz com que mesmo aquela ideia inicial de uma trama
de tons novelescos acabe se transportando para uma dimensão fortemente
simbólica, a retratar um país em crise de identidade que se obriga a encarar as
verdades cruéis de sua essência para poder seguir em frente.
Um comentário:
Um dos grandes filmes do ano passado.
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