Noite de 1º de abril de 2016, no teatro do Bourbon Country
de Porto Alegre. Elza Soares apresenta com a sua banda o show “A mulher do fim
do mundo”. Não é uma apresentação qualquer. Boa parte do público presente
difere bastante dos frequentadores habituais do shopping em questão – são jovens
vestidos de forma mais desleixada, com cabelos desgrenhados, sem dar muita bola
para a grife do momento. Os ânimos estão exaltados, houve uma mudança na
questão da meia-entrada para estudantes, e em função disso algumas pessoas têm
a entrada barrada ou atrasada por questões burocráticas. Considerando que na
noite anterior houve as manifestações contra o impeachment, e que provavelmente
um número considerável dos espectadores estiveram lá também (inclusive este que
vos escreve), dá para se ter uma ideia do ambiente tenso Antes de começar o
show, proliferam gritos de “libera” por parte de vários jovens. Pode-se
perceber que algumas senhoras aparentam preocupação, afinal estão lá na
esperança de ver com tranquilidade a Elza cantando alguns tradicionais
clássicos de Lupicinio Rodrigues. Quando começa efetivamente a performance de
Elza, parece que temos a trilha sonora perfeita para essa atmosfera conturbada –
uma brilhante síntese de samba, rock torto e ruído, com Elza sentada no trono
como uma rainha soturna, a proferir um canto marcado pela sabedoria, ginga e
contestação. Melodias sombrias, ritmos quebrados e letras perturbadoras
encontram ressonância numa plateia que fica numa zona limite entre hipnotizada
e ensandecida.
Dois dias depois, há uma sessão do filme “Casamento grego 2”
(2016) em algumas das salas de cinema do mesmo Bourbon Country. As coisas
parecem ter voltado ao “normal” no respeitável centro de consumo. Na plateia,
senhoras e senhoritas vestidas dentro do seu esmero característico, com seus
indefectíveis celulares de ponta sendo acionados a todo momento durante a
projeção do filme. Na tela, simplesmente uma das piores produções dos últimos
tempos. O diretor Kirk Jones dá a impressão de ter chutado o balde – como se
trata de uma sequência de um grande sucesso, dirige de qualquer jeito e sem
muitos critérios estéticos. Seu formalismo é uma junção de clichês narrativos
de almanaque, o elenco no geral não faz muita força para entregar alguma
atuação provida de vigor ou elaboração, o roteiro é um compêndio de imbecilidades
e lugares comuns babacas e edificantes, em que idosos são retratados como
criaturas fofinhas, o conflito de gerações é reduzido a lições de morais
simplórias e os dilemas das mulheres se resumem a encontrar uma boa forma de
agradar ao mesmo tempo seus pais e os seus maridos. A cada cinco minutos, o
espectador é submetido à alguma cena em que algum personagem discursa lições de
vida sublinhadas por uma trilha sonora melosa horrível. Esse conjunto pífio e
asqueroso de obviedades e golpes sentimentais apelativos é recebido com ovação
pela grande maioria do público. É claro que assim que começam os créditos,
todos saem correndo, satisfeitos com essa boa dose de diversão escapista
respeitável. É provável que assim que cheguem nos seus carros já tenham até
esquecido tudo que viram nas últimas duas horas.
Pode-se achar que fazer um contraponto entre a apresentação
abrasiva de Elza Soares e a sessão bem comportada de “Casamento grego 2” seja
forçar a barra. Nos tempos tenebrosos em que vivemos, entretanto, em que
setores da sociedade defendem um golpe de Estado em nome de valores confusos e
questionáveis, as situações aqui descritas acabam sendo bem emblemáticas...
Um comentário:
O cineasta Joel Zwick, que dirigiu o primeiro filme e atualmente vem trabalhando na direção de vários seriados voltando para o público família, não volta para a sequência. Gostei de ver a Alex Wolff no filme, lembro dos seus papeis iniciais, nos filmes de ação 2017 e vejo muita evolução, mostra personagens com maior seguridade e que enchem de emoções ao expectador. Também desfrutei muito sua atuação neste filme Jumanji Bemvindo A Selva cuida todos os detalhes e como resultado é uma grande produção e muito bom elenco.
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