Para aqueles habituados ao padrão artístico do diretor
sérvio Emir Kusturica, não haverá grandes surpresas em “Vida cigana” (1988).
Está lá a característica combinação de melodrama histórico, crítica social, personagens
esquisitos, humor entre o grotesco e o poético, estética exuberante e uma
trilha sonora repleta de temas regionais que transitam entre o dançante e o
melancólico. Ainda assim, somente um cineasta criativo como Kusturica consegue
dar uma liga tão coesa e impactante para tais elementos. A trama que narra a
trajetória de um jovem cigano em busca de uma vida melhor pode soar por vezes
clichê em algumas de suas soluções. Ocorre, entretanto, que perpassa sempre uma
atmosfera de sarcástica ironia a demolir os valores pequenos burgueses da
sociedade ocidental, principalmente na relação simbólica que se estabelece
entre capitalismo e crime para evidenciar a tênue linha que os separas. Para
embalar essa desiludida crônica sobre pequenos marginais e perdedores,
Kusturica investe num formalismo que abarca por fezes o viés bufante operístico
de Fellini e em outros momentos aquele misto de escrotidão e lirismo do
clássico “Feios, sujos e malvados” (1976). Poucos anos depois, Kusturica
aperfeiçoou esse particular estilo e entregou a sua obra-prima, “Underground”
(1995).
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