terça-feira, abril 26, 2016

Sinfonia da necrópole, de Juliana Rojas ***

Talvez a melhor referência para se entender a particular concepção artística de “Sinfonia para necrópole” (2014) seja o clássico “Os Guarda-chuvas do amor” (1963). Embora não tão radical em sua estrutura quanto a obra de Jacques Demy, o filme da cineasta Juliana Rojas é inquietante em suas escolhas formais e temáticas. Para começar, o gênero ao qual pertence é bem pouco habitual em tempos recentes, ainda mais em se tratando de cinema nacional – qual foi o último musical brasileiro lançado em nossas telas? Além disso, Rojas vincula também sua obra ao fantástico. Sua abordagem é francamente cômica, com belas canções originais repletas de letras irônicas e coreografias desajeitadas de maneira simpática. Dentro de tais opções artísticas, esconde-se uma certa perversidade autoral por parte de Rojas. Ela brinca com clichês narrativos, sugere desenlaces típicos de uma comédia de tons românticos e sociais, a lá Frank Capra, mas aos poucos o desenrolar dos fatos do roteiro e mesmo a ambientação da obra vão se tornando mais realistas e até mesmo amargos, aí residindo sua principal conexão com a referida produção de Demy. A diretora atinge um equilíbrio admirável entre a atmosfera lúdica e uma visão bastante pessimista sobre as relações humanas dentro de uma sociedade marcada pelo mercantilismo e pelo cinismo. No final das contas, “Sinfonia da necrópole” acaba sendo uma obra bem emblemática dos tempos funestos que vivemos no Brasil.

Nenhum comentário: