Talvez a melhor referência para se entender a particular
concepção artística de “Sinfonia para necrópole” (2014) seja o clássico “Os
Guarda-chuvas do amor” (1963). Embora não tão radical em sua estrutura quanto a
obra de Jacques Demy, o filme da cineasta Juliana Rojas é inquietante em suas
escolhas formais e temáticas. Para começar, o gênero ao qual pertence é bem
pouco habitual em tempos recentes, ainda mais em se tratando de cinema nacional
– qual foi o último musical brasileiro lançado em nossas telas? Além disso,
Rojas vincula também sua obra ao fantástico. Sua abordagem é francamente
cômica, com belas canções originais repletas de letras irônicas e coreografias
desajeitadas de maneira simpática. Dentro de tais opções artísticas, esconde-se
uma certa perversidade autoral por parte de Rojas. Ela brinca com clichês
narrativos, sugere desenlaces típicos de uma comédia de tons românticos e
sociais, a lá Frank Capra, mas aos poucos o desenrolar dos fatos do roteiro e
mesmo a ambientação da obra vão se tornando mais realistas e até mesmo amargos,
aí residindo sua principal conexão com a referida produção de Demy. A diretora
atinge um equilíbrio admirável entre a atmosfera lúdica e uma visão bastante
pessimista sobre as relações humanas dentro de uma sociedade marcada pelo
mercantilismo e pelo cinismo. No final das contas, “Sinfonia da necrópole”
acaba sendo uma obra bem emblemática dos tempos funestos que vivemos no Brasil.
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