segunda-feira, julho 11, 2016

Certo agora, errado antes, de Sang-soo Hong ***1/2

Se em “A visitante francesa” (2012) o diretor coreano Sang-soo Hong dividia a narrativa em múltiplas frentes para oferecer diferentes perspectivas sobre a mesma trama, em “Certo agora, errado antes” (2015) ele aprofunda a sua particular concepção artística. Num primeiro momento, as duas metades que compõem o roteiro do filme parecem oferecer as visões diferentes sobre os mesmos fatos dos dois protagonistas, um homem maduro e uma jovem que entram num jogo de flertes e sedução. Aos poucos, entretanto, esse jogo narrativo vai se mostrando cada vez mais complexo e fascinante. O contraponto que se faz entre as duas diferentes narrativas adquire significados diversos e que mesmo na conclusão do filme não deixa claro qual seria a intenção real da relação que se estabelece entre as histórias. Assim, entra também em cena os desejos dos personagens (poderia a segunda metade ser uma espécie de projeção mais idealizada do que deveria ter sido a primeira?), a subjetividade do olhar (na narrativa final são mostrados os detalhes cênicos e textuais que escaparam na primeira visão), as diferenças na construção da atmosfera da obra (se na primeira parte predomina uma ambientação mais contida, na segunda se adota um tom de comicidade discreta que por vezes até beira o fabular). Ainda dentro desse processo sutil de desconstrução da narrativa, o cineasta adota um insólito estilo de filmar que evoca a fronteira entre o documental e o registro caseiro, o que acentua ainda mais o estranho encanto da produção.

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