Se em “A visitante francesa” (2012) o diretor coreano
Sang-soo Hong dividia a narrativa em múltiplas frentes para oferecer diferentes
perspectivas sobre a mesma trama, em “Certo agora, errado antes” (2015) ele
aprofunda a sua particular concepção artística. Num primeiro momento, as duas
metades que compõem o roteiro do filme parecem oferecer as visões diferentes
sobre os mesmos fatos dos dois protagonistas, um homem maduro e uma jovem que
entram num jogo de flertes e sedução. Aos poucos, entretanto, esse jogo
narrativo vai se mostrando cada vez mais complexo e fascinante. O contraponto
que se faz entre as duas diferentes narrativas adquire significados diversos e
que mesmo na conclusão do filme não deixa claro qual seria a intenção real da
relação que se estabelece entre as histórias. Assim, entra também em cena os
desejos dos personagens (poderia a segunda metade ser uma espécie de projeção
mais idealizada do que deveria ter sido a primeira?), a subjetividade do olhar
(na narrativa final são mostrados os detalhes cênicos e textuais que escaparam
na primeira visão), as diferenças na construção da atmosfera da obra (se na
primeira parte predomina uma ambientação mais contida, na segunda se adota um
tom de comicidade discreta que por vezes até beira o fabular). Ainda dentro desse
processo sutil de desconstrução da narrativa, o cineasta adota um insólito
estilo de filmar que evoca a fronteira entre o documental e o registro caseiro,
o que acentua ainda mais o estranho encanto da produção.
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