sexta-feira, julho 08, 2016

Kaos, de Paolo e Vittorio Taviani ****

O cinema dos irmãos Taviani sempre manteve uma forte ligação com a literatura. “Kaos” (2013) representa um dos grandes pontos altos dessa relação. Adaptando contos escritos por Luigi Pirandello, os cineastas extraem uma síntese narrativa extraordinária e uma forte coesão artística. A ligação que se dá entre os episódios é quase tênue em termos textuais, mas a atmosfera é sempre a mesma, uma estranha e encantadora combinação de encenação naturalista e ambientação fantástica, algo como se a tradição do neorrealismo italiano passasse por um filtro estético muito particular, por vezes com a impressão de um delírio onírico filmado com traços documentais. Não se trata apenas de transpor um texto literário para um âmbito imagético, mas também de o recriar a partir de uma linguagem nova, a um ponto que essa ligação se torne intrínseca. Assim, a majestosa direção de fotografia e encenação repleta de nuances dramáticas e cômicas consegue traduzir toda aquela gama de sentimentos e sensações atávicos e místicos das histórias de Pirandello dentro de uma experiência audiovisual que cola no imaginário do espectador como se fosse uma velha lenda.

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