O cinema dos irmãos Taviani sempre manteve uma forte ligação
com a literatura. “Kaos” (2013) representa um dos grandes pontos altos dessa
relação. Adaptando contos escritos por Luigi Pirandello, os cineastas extraem
uma síntese narrativa extraordinária e uma forte coesão artística. A ligação
que se dá entre os episódios é quase tênue em termos textuais, mas a atmosfera
é sempre a mesma, uma estranha e encantadora combinação de encenação
naturalista e ambientação fantástica, algo como se a tradição do neorrealismo italiano
passasse por um filtro estético muito particular, por vezes com a impressão de um
delírio onírico filmado com traços documentais. Não se trata apenas de transpor
um texto literário para um âmbito imagético, mas também de o recriar a partir
de uma linguagem nova, a um ponto que essa ligação se torne intrínseca. Assim,
a majestosa direção de fotografia e encenação repleta de nuances dramáticas e
cômicas consegue traduzir toda aquela gama de sentimentos e sensações atávicos
e místicos das histórias de Pirandello dentro de uma experiência audiovisual
que cola no imaginário do espectador como se fosse uma velha lenda.
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