Alguns dos episódios exibidos na internet do coletivo cômico
Porta dos fundos realmente são bem interessantes e engraçados na sua concepção
de humor que mistura escatologia, ironia e crítica comportamental. Na transposição
desse direcionamento artístico para o cinema, conforme pode ser observado em “Contrato
vitalício” (2016), não dá para dizer que o grupo abriu grandes concessões
comerciais. Pelo contrário – mesmo estruturado como uma grande trama de ficção,
fica evidente que o espírito de comédia ácida de Gregório Duvivier, Fábio Porchat
e companhia permanece característico. O problema do filme é que na realidade
nem tudo que funciona num episódio de fôlego curto acaba tendo a mesma
efetividade numa narrativa mais longa. O roteiro até guarda alguns temas atraentes
pelo seu teor contestatório dos costumes da sociedade brasileira contemporânea –
conflito entre comércio e arte, a efemeridade das manifestações culturais em
tempos de redes sociais, conflitos de classes. O problema é que a narrativa
parece se estruturar a partir de sketches cômicos individuais de cada um dos
membros do Porta dos fundos sem que haja uma ideia de unidade natural de
interação entre elas. Alguns tipos criados pela trupe apresentam alguma
ressonância em termos de profundidade, mas outros são apenas caricaturais e
óbvios. Em algumas das melhores produções cinematográficas do grupo inglês
Monty Python havia essa mesma ideia de estrutura narrativa a partir de
sketches, mas a diferença é que se obedecia a uma ordem existencial e artística
de notável fluência. Claro que a comparação pode soar desproporcional e injusta,
mas também indica que há caminhos criativos para o coletivo brasileiro evoluir
dentro da sua trajetória cinematográfica.
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