É provável que aqueles que apreciaram o extraordinário “Garota
exemplar” (2014) de David Fincher possam ficar curiosos com “Lugares escuros”
(2015), pois ambos os filmes se baseiam em romances da escritora Gillian Flynn.
No caso da versão de Fincher, entretanto, a força da obra se residia no
tratamento formal rebuscado e na atmosfera irônica com que o diretor envolvia
uma trama repleta de clichês novelescos e absurdos. Já na concepção artística
de “Lugares escuros”, o diretor Gilles Paquet Brenner está bem distante do
gênio estético de Fincher, fazendo com que a sua produção enverede por uma
narrativa bem mais tradicional e se conforme a reproduzir as viradas rocambolescas
do roteiro. Ainda assim, consegue manter uma tensão e um clima sombrio
envolventes, com direito inclusive a uma visão bastante sardônica da atração da
sociedade ocidental pelo sensacionalismo macabro de assassinatos e demais casos
escabrosos. Há uma certa ambientação de influências góticas que relaciona com
alguma criatividade os truques habituais do gênero suspense e uma temática de
teor naturalista que evoca com discrição questões sociais e econômicas. Pena
que a conclusão da trama peque pelo excessivo apego às convenções desse tipo de
produção.
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